Dark acabou e deixou vários fãs órfãos da série com teorias sobre viagens no tempo, paradoxos e tudo mais. Por isso, agora muitos buscam produções que tragam discussões parecidas e a primeira sugestão do POPOCA é O Predestinado (Predestination, no original), produção australiana com Ethan Hawke e conta até com uma ligação direta com a série alemã.
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Mas sobre o que é? Vamos primeiro falar a respeito sem spoilers. Se você já assistiu, pode conferir nossa análise logo abaixo do vídeo com o filme completo no youtube. O Predestinado fala do contato de um misterioso barman com um homem amarguarado e desiludido com os próprios problemas da vida. A medida em que revela sua existência, ele descobre como o rapaz no bar pode ajuda-lo a descobrir um rumo para sua própria vida: entrando em uma agência de viagens no tempo. A história começa como se fosse um filme de ação e espionagem, mas subverte o gênero e muda radicalmente seu ritmo se transformando em uma história dramática. Sem perder o fõlego. O filme baseado no conto “-All You Zombies-“, que você pode ler em inglês no Wattpad aqui. O texto é escrito por Robert A. Heinlein e publicado primeiro em uma edição da revista Fantasy and Science Fiction e foi indicada ao Balrog Award de melhor história curta. Em outras palavras: é um texto que encontrou respeito e sucesso no círculo intelectal e de leitores.
Além disso, Heinlein foi o autor do folhetim By His Bootstraps, que é justamente o que batiza O Paradoxo de Bootstrap citado em Dark. Ou seja, o conceito de que um objeto pode existir sem ter sido criado, aparecendo sempre antes do momento de sua criação por uma viagem no tempo. Em algum grau, o conto original deve ter influenciado os alemães Baran bo Odar e Jantje Friese.
Soa familiar? Pareceu interessante? Assista o filme completo no Youtube, leia nossa análise com spoilers a seguir e ouça nosso podcast logo abaixo.
O Predestinado se baseia em um personagem que é o próprio Paradoxo de Bootstrap. Ele é um interssexual, que no decorrer de sua trajetória viaja no tempo e se apaixona por si mesmo, gerando a si próprio.
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Mas será que isso é possível?
- Em primeiro lugar, o filme não se propõe a respeitar questões de ciência com 100% de veracidade. Vale, porém, lembrar que há alguns anos, médicos faziam intervenções cirúrgicas nos genitais de crianças intersexo esperando que, por exemplo, só por terem uma neovagina, se tornariam meninas, o que não se mostrou verdadeiro. Gênero não depende de genital.
- A ideia já se provou incorreta.
- Embora tenha um enredo interessante, O Predestinado acaba não dando um exemplo positivo a causa interssexual. Nem toda história precisa assumir compromissos sociais, mas o enredo interessante acaba reproduzindo preconceitos e perdendo a chance de abrir debates melhores, especialmente com um final em que o personagem termina louco.
- Em artigos médicos, o termo “predestinação hormonal” é citado de forma recorrente.
- Assim como em Dark, há um limite para jornadas para o futuro ou passado. Aqui, o autor usa o “ponto zero”, que é quando a máquina do tempo é criada. Ninguém pode viajar 53 anos antes ou depois deste período ou pode ser vaporizado. Da mesma forma, na série alemã você é limitado a salto de 33 anos.
- Embora seja australiano, o filme se passa todo nos Estados Unidos.
- O único artefato futurista é a caixa de violino que funciona como máquina do tempo.
- Ethan Hawke é a estrela comercial, mas quem realmente arrebata na produção é a atriz Sarah Snook, que interpreta a jornada final da personagem como mulher e seu início como homem.
No geral, O Predestinado é um filme muito surpreendente e sem furos de roteiro. Seus problemas estão relacionados a forma como lida com questões sociais, que sobrepõem a importância do enredo. De um jeito ou de outro, vale a pena assistir.
Nota: 7,5
Chamada: o POPOCA está aberto para pessoas com lugar de fala que queiram falar de como O Predestinado aborda pessoas trans. Entre em contato: sutepopoca[at]gmail.com!
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