O impactante desfecho de ‘Mo’

Quando a comédia é um ato de resistência.

Mo é uma daquelas preciosidades que conquistam quem se dispõe a assistir. Infelizmente, é também uma série subestimada, que só garantiu a renovação cinco meses após sua estreia na Netflix em agosto de 2022. E a 2ª temporada seria a última, que só estreou em 30 de janeiro deste ano.

A trama da nova temporada começa seis meses após o término da primeira, com Mo (Mo Amer) tentando voltar aos Estados Unidos depois de acidentalmente ir parar no México. Vendendo tacos de falafel e se apresentando com um grupo de mariachi para sobreviver, o protagonista precisa enfrentar infrutíferas visitas à embaixada americana e um constrangedor encontro com o embaixador para acabar recorrendo a um coiote.

O plot em que Mo muda seu status de refugiado para imigrante ilegal não poderia chegar em momento mais oportuno. Mesmo que o período retratado não seja o atual, dentro do segundo governo de Donald Trump, a série retrata o tratamento desumano dado aqueles que querem tentar uma vida melhor no país que promete ser a terra onde os sonhos se realizam. O que constantemente não é o que acontece.

Além de abordar a difícil jornada dos imigrantes, Mo também não hesita em tocar em temas geopolíticos sensíveis. Não foram poucas as críticas feitas ao modo como a mídia e a comunidade em geral minimizam as graves violações de direitos humanos que ocorrem há décadas em território palestino. E ainda sobrou para Maria (Teresa Ruiz), acusada de “terrorismo emocional” ao namorar um israelense.

Como não podia deixar de ser, a série manteve o ótimo desenvolvimento dos coadjuvantes. Desde Yusra (Farah Bsieso) se sentindo mais confiante ao vender seu azeite, e enfim superando o luto, até Sameer (Omar Elba) recebendo o diagnóstico de autismo. Foi tocante e importante a forma como foi abordado o diagnóstico em adultos, principalmente quando a família está em negação. Sem dúvida um plot muito bonito, e que espero que ajude muita gente.

Uma coisa que esperávamos muito poder ver era Mo e a família indo à Palestina. E quando, depois de muitos perrengues, nosso querido protagonista consegue o sonhado Green Card a viagem foi liberada. A emoção do encontro dos familiares que não se viam há 30 anos foi mesclada por críticas a situação a qual o povo palestino é subjugado. E para encerrar com uma reflexão à altura de toda a série, na última cena vemos Mo, Yusra e Sameer tentando voltar aos Estados Unidos no dia 6 de outubro de 2023. Véspera do início da guerra entre Israel e Hamas.

É duro ver uma série tão boa e que ainda tinha tanto a oferecer acabar tão cedo. E ainda nos deixa sem saber o destino dos personagens. Será que ainda teremos a chance de ver onde essa história pode nos levar? Amer, que também é criador da série ao lado de Ramy Youssef, já declarou querer continuar contando essa história. Seria muito bom ter uma 3ª temporada, embora ache difícil a Netflix voltar atrás. A verdade é que mesmo com um final amargo, o desfecho foi bem condizente com os acontecimentos atuais.

Se você ainda não conferiu Mo, vale a pena dar uma chance e se deixar envolver por essa narrativa tão relevante e atual. As duas temporadas estão disponíveis na Netflix.

Nota: 10

Confira o trailer da temporada:

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