Indicado ao Oscar de Melhor Fotografia (uma disputa ferrenha com 1917 e, talvez, O Irlandês), O Farol é uma produção poderosa de Robert Eggers (A Bruxa) cheio de simbolismos mistério e que evoca tradições antigas, como parece ser a preferência do diretor. Sorte a nossa.
No final do século 19, em uma remota ilha sem nome um novo zelador (Robert Pattinson) chega para ajudar o faroleiro local (Willem Dafoe) como assistente. Porém, aos poucos, o isolamento e o trabalho monótono causa tensão na convivência entre os dois. Entre tempestades e goles de álcool, o novato tenta desvendar os mistérios que existem nas histórias de pescador de seu chefe ao mesmo tempo que tenta não enlouquecer.
O diretor de fotografia Jarin Blaschke (A Bruxa) é um artesão. Filmes em preto e branco são sempre desafiadores em uma era tão visual. Se há quem diz que filmes sem cor são melhores se deve muito a trabalhos como O Farol, que faz da escuridão e da luz quase personagens próprios na história de tensão entre dois homens e sua própria loucura. Sua claustrofobia fotográfica evoca filmes expressionistas da Alemanha do século passado, o que já seria quase tão importante quanto qualquer Oscar. Note que se naquela época filmes como Dr. Caligari falavam ao ethos alemão que culminaria no nazismo, o que será que O Farol diz de nossos tempos?
A direção de Eggers desafia todas as convenções do cinema de horror contemporâneo que conhecemos. DaFoe e Pattinson tem atuações exageradas e teatrais, mas que funcionam. Em diversos momentos de tensão, o volume da música aumenta mesmo com imagens impactantes. E, novamente, dá tudo certo. Em mais uma história que desafia mística e realidade, o diretor tem sua própria magia com o espectador causando tensão antes, depois e durante seu clímax até o desfecho final.
Se A Bruxa trazia um sentido fechado, aqui o fim é apenas o iníco de uma reflexão. O que O Farol ilumina? Quais pedras lhe sustentam e quais pássaros voam ao seu redor desses dois homens quase iguais? Assista e pense a respeito antes de dormir. Se puder.
Nota: 10