O dia 17 de maio é lembrado como Dia Internacional contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia. Esse dia deve ser principalmente para discutir a visibilidade dessas populações, que sofrem preconceitos e violências de todo o tipo, sendo marcado centralmente pela perspectiva de luta. Essa problemática vem sendo levantada há décadas em produções de cinema e televisão, permitindo importantes debates sobre a questão do preconceito, suas formas de manifestação na sociedade e, principalmente, os elementos que apontam para formas de combatê-lo.
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Nessa perspectiva, no período recente, alguns filmes trouxeram a reflexão sobre “terapias de conversão” e mesmo de acampamentos que prometem “curar” essa suposta doença. Essa preocupação do cinema não tem outra motivação que não o crescente debate sobre “cura” e “conversão” ocorrido na sociedade norte-americana nos últimos anos, envolvendo até mesmo empresários e políticos. O fato é que perseguição e preconceito não são apenas aberrações de regimes ditatoriais, como o nazista, ou teocráticos, como o do Irã, mas até mesmo em regimes que se dizem democráticos, como no Brasil e nos estados Unidos.
Em 2018 foi lançado O Mau Exemplo de Cameron Post, filme protagonizado por Chloë Grace Moretz e dirigido por Desiree Akhavan (seu trabalho mais recente é As Pequenas Coisas da Vida, disponível no Star+). No filme, a protagonista é descoberta fazendo sexo com sua melhor amiga, com quem mantinha um relacionamento secreto. Entre outras barbaridades, em determinado momento do filme, a médica da clínica de “tratamento” fala sobre a homossexualidade como um pecado e compara gays e lésbicas a canibais, dizendo que “eles atacam porque querem obter as qualidades de sua presa”.
Do mesmo ano é Boy Erased: Uma Verdade Anulada, com Lucas Hedges, Russell Crowe e Nicole Kidman. Crowe interpreta um pastor que, quando descobre que o filho é gay, envia o jovem para uma clínica de “cura gay”. O “tratamento” da clínica inclui, entre outras coisas, humilhação, culpar os pais e praticar exorcismo. O mantra da clínica é, em tradução livre, algo como “finja até dar certo”.
Mais recentemente, em 2022, foi lançado o filme They/Them – O Acampamento, protagonizado por Kevin Bacon. Trata-se de uma obra de terror, onde misteriosos assassinatos começam a ocorrer, associado principalmente à equipe do acampamento de conversão. O recado para os defensores da “cura gay” é bastante claro (e também violento).
Nesses filmes, a conclusão é bastante clara: as promessas de “cura” ou de “conversão” não passam de mentira. No filme protagonizado por Moretz afirma-se categoricamente que aquele tipo de acampamento realiza “tortura psicológica” e procura fazer com que as pessoas “odeiem a si mesmas”. E por isso deveria ser denunciado e ter suas atividades encerrdas.
No caso do filme protagonizado por Bacon, a hipocrisia é mostrada de forma aberta, de várias formas, como pelo exemplo de um casal de instrutores que se excita por meio do voyeurismo dos jovens do acampamento. Mesmo o mistério das mortes se explica pelo “fracasso” dos “métodos” usados para a “conversão” e “cura”. Esse filme também traz a questão trans, por meio de dois personagens, e algumas das dificuldades enfrentadas por todos aqueles jovens.
Outros filmes e séries poderiam ser mencionados, mas os já citados dão conta de colocar diversos elementos em discussão. Para além das e dos protagonistas, são sempre apresentados um grupo diverso de jovens, com diferentes histórias, ainda que com traços comuns: rejeição de sua identidade pela família e sofrimento por não conseguir se encaixar em um ambiente heteronormativa que não reconhece a diversidade. E também como a religião acaba sendo um motor para a difusão de ignorância e preconceito. Em função disso, enfrentam o preconceito em seu cotidiano e enxergam nesse tipo de lugar quase como um depósito onde suas famílias os amontoam para que fiquem escondidos até se “recuperarem”.
Portanto, uma data como a de hoje, passa necessariamente por refletir sobre o preconceito e pensar em formas de combatê-lo. Os filmes e séries que tematizam a questão, inclusive esses sobre acampamentos e clínicas de “cura” e “conversão”, dão muitas pistas do que se pode fazer e, principalmente, do que não se deve fazer nessa luta.