Um dos favoritos ao Oscar, O Brutalista me da a sensação de ter a edição final interrompida em algum momento e, a partir disso, finalizado às pressas. Seja lá o que for, o filme dirigido por Brady Corbet começa bem e nos dá a ilusão de que poderia ser um grande filme para entregar um desfecho desastroso em um clímax pontuado por um epílogo com jeito de filme edificante. Dos piores. Numa avaliação honesta, não é o único problema, mas uma sucessão de equívocos que compromete os acertos. E deixa um gosto amargo na boca.
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Como ficção histórica, o filme explora um arquiteto que conceberia a Arquitetura Brutalista: o húngaro László Toth (Adrien Brody), que foge de seu pais devido a perseguição aos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e se perde da sua esposa Erzsébet (Felicity Jones). Ao chegar aos Estados Unidos, Toth precisa enfrentar a pobreza extrema, o preconceito contra judeus e a falta de oportunidades ao mesmo tempo que enfrenta o vício por drogas que aliviem a dor de um nariz quebrado e de sua solidão. Até que possa reencontrar sua esposa, ele acaba recebendo o apoio financeiro do ambíguo empresário Harrison Lee (Guy Pearce), que acredita em seu talento e visão e propõe um projeto que pode relançar sua carreira nos EUA.
A Vulture descreve O Brutalista como “a metade de um grande filme” enquanto a Vanity Fair vai pelo mesmo caminho ao chamar de “metade de uma obra-prima” . De fato, o filme tem direção de arte e de fotografia dignas das indicações que colecionam. No campo da atuação, Brody e Pearce se revezam em dois personagens cheios de camadas que tornam o filme menos fábula e mais drama. Nesse ponto, a direção de Corbet já pecava pela escolha de músicas que deixam as cenas óbvias demais, dizendo exatamente o que devemos entender como se as imagens não bastassem. Um erro que a qualidade do filme parecia capaz de sobrepor.
O filme atravessa o limite entre o erro e o desastre quando coloca como grande inspiração para o personagem criar sua obra prima… Campos de concentração de holocausto! A bizarrice envolvendo um sobrevivente do nazismo levou Laura Morowitz, historiadora de arte judia que estuda o holocausto a escrever esta crítica na internet.
Traduzo o seguinte trecho: “embora a atuação de Adrian Brody seja brilhante, eu odeio o filme. Eu odeio isso como uma espectadora de cinema, odeio isso como alguém que ensina história da arquitetura e odeio isso como alguém que escreve sobre o Holocausto. Como uma narrativa, como uma investigação do poder da arquitetura e como um olhar sobre como o trauma pode marcar o trabalho artístico de alguém, o filme é um fracasso”, opinou.
Mas O Brutalista erra antes disso ao divagar mais entre as relações de Toth com as drogas e seus traumas do que contar uma boa história. O clímax de uma grande revelação deveria impactar o filme para alguma conclusão ou desfecho, mas tudo termina abruptamente e com um epílogo que deixa muitos buracos em um filme de mais de três horas. Será que não era melhor produzir como uma minissérie? Zsófia (Raffey Cassidy) recupera a fala sem explicação assim como Erzsébet volta a andar. Teria ocorrido um estupro que o roteiro não explora entre a sobrinha do protagonista e o primogênito de Harrison? Qual a função de Gordon (Isaach de Bankolé) para o roteiro além de ser o amigo negro? Ainda sobre Erzsébet: suas dores pararam? Eram importantes? Se o filme não se baseia em personagens reais, esses detalhes soam como desnecessários e ajudam a tornar o filme longo, mas incompleto. Três horas e meia que terminam rasas.
O conceito de que um patrono pode ser esquecido enquanto o trabalho do arquiteto fica parece interessante (no artigo linkado acima, Laura descreve como clichê), mas em O Brutalista é somente uma ideia incompleta como uma obra inacabada. Tentando falar de estética, o filme mostra poucos exemplos e recorre até a um powerpoint para explicar o que o diretor queria em um final confuso. Apesar de ser bem intencionado, o filme fracassa em suas melhores intenções. Seja lá quais forem.
Nota: 5
Confira o trailer de O Brutalista: