‘Nomadland’ será a surpresa do Oscars?

Chloé Zhao e Frances McDormand são candidatíssimas a estatuetas

Receber uma estatueta nos Oscars nem sempre tem a ver com o que se vê no filme, mas com o trabalho que levou até o resultado final. Nesse sentido e sob alguns aspectos, Nomadland é um filme anti-Oscars, posto que está longe de ser o usual Hollywoodiano que estamos acostumados a ver. Mas a Academia certamente será capaz de enxergar o trabalho incrível que a diretora Chloé Zhao teve para chegar no resultado final. Será que ela vai se tornar a primeira asiática a vencer como melhor diretora?

++ Oscars: O Som do Silêncio se impõe

Fern (Frances McDormand) perdeu seu emprego e casa durante a recessão econômica ao mesmo tempo que seu marido morre de causas naturais em 2011. Vivendo só em uma van, ela percorre os Estados Unidos pulando de empregos precários sem querer fincar raízes. O enredo é baseado no livro de não-ficção Nomadland – Surviving America in the Twenty–First Century, de Jessica Bruder. Sim, não-ficção.  Nomadland é um filme tão diferente que tem mais cara de produção brasileira do que norte-americana. Por exemplo, o elenco tem o número de atores de qualquer filme independente, mas nenhum é ator de verdade com a exceção de Frances e David Strathairn (que interpreta Dave).

Todos interpretam a si próprios (nos créditos os nomes dos personagens são os mesmos dos intérpretes, o que indica como ninguém está atuando) e a única pessoa com história cênica é  Frances McDormand. Embora seja uma atriz relativamente famosa por filmes como Fargo: Uma Comédia de Erros e Quase Famosos, ela não era um rosto conhecido para quase nenhuma das pessoas com quem contracena. Ou seja, há um componente de verdade quase documental em Nomadland. Cenas como a que Fern chora ao falar de seu marido, são mentira do lado da atriz mas a reação de seus interlocutores é real.

Chloé Zhao joga com esse “quase” ao usar uma câmera que não se assume como personagem ou como voyeur, ficando em um meio termo no meio do deserto do Oeste norte-americano. Não é um filme fácil. Nomadland é menos entretenimento e mais reflexão, contando uma história tão dura quanto é o final da vida de pessoas que o capitalismo insiste em fingir que não existem. É até curioso que no meio disso, a Amazon seja uma das marcas com mais visibilidade.

Se Chloé é uma candidata forte ao Oscar por um trabalho e resultado tão diferentes, Frances não fica atrás. Quatro meses morando em van, trabalhando em subempregos e viajando por sete estados é um trabalho hercúleo para qualquer atriz e talvez seja a mais forte candidata contra Viola Davis. De um jeito ou de outro, Nomadland é um registro forte não só de um lado dos Estados Unidos que ninguém vê, mas principalmente um jeito de fazer filmes que vale a pena assistir.

Nota: 9

Confira o trailer:

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