Mais sobre quadrinhos de quarentena e apoios do catarse

Eu adoraria ter feito um texto aqui sobre cada quadrinho lido ao longo da quarentena. Não consegui. Pandemia, mestrado, aulas, me impossibilitaram. Mas esses três últimos (sim, três de uma vez), valem uma coluna só para eles.

++ Projeto quer recontar Contos de Fadas com viés sombrio

Desde meu primeiro texto no Popoca venho falando como a pandemia alterou os hábitos dos artistas e fãs de quadrinhos esse ano. Com as regras de distanciamento social cancelando ou adiando os diversos eventos de quadrinhos que estavam agendados, os artistas tiveram poquíssimas possibilidades de contato com seu público leitor (e vice-versa), além de verem suas vendas diminuir.

Assim, ganham força as campanhas de financiamento coletivo, seja para ajudar à produção de uma obra em específico, seja para um apoio continuo.
Os três artistas que falarei aqui passaram por isso e aumentaram ainda mais seus projetos de pedidos de apoios nesse ano, um deles, inclusive, envolvendo os três autores juntos.

Os autores e a autora:
Marcatti: um dos maiores nomes do chamado underground brasileiro, na ativa desde o início dos anos 80. Possuindo uma impressora off-set pôde fazer o trabalho inteiro de publicar seus quadrinhos por conta própria (escreve, desenha, colore, diagrama, imprime e vende). Suas histórias normalmente têm uma pegada escatológica, nojenta mesmo. Além de suas revistas próprias participou de diversas antologias do universo underground, trabalhou com a banda Ratos do Porão e adaptou contos e romances para os quadrinhos (está adaptando agora Os Miseráveis, de Victor Hugo). Em 2001 cria seu personagem mais emblemático, Frauzio, com histórias contendo as clássicas nojeiras, libertinagens e doideiras que sempre tiveram em seus trabalhos anteriores.

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Laudo Ferreira: Roteirista e desenhista velho de guerra, também, com trabalhos tanto nos quadrinhos como em ilustrações e na publicidade. Conhecido por “Yeshuah absoluto”, que traz uma visão pessoal do autor para a vida de Jesus Cristo, mas também por suas histórias eróticas da Tianinha, que criou para uma revista de público masculino, mas depois de ser descontinuada naquela revista ganhou publicação independente. Também é conhecido por suas adaptações de contos, filmes e histórias de músicas para os quadrinhos. laudoferreira.com
Germana Viana: uma das minas há mais tempo no mercado de quadrinhos no Brasil em atividade. Já passou por diversos trabalhos diferentes desse Mercado. Além de roteirista e desenhista, já fez design gráfico e letras para quadrinhos e trabalhou com o agenciamento de quadrinistas brasileiros para o Mercado dos Estados Unidos de quadrinhos. Desde 2013 começou a publicar seus próprios quadrinhos, começando com “Lizzie Bordello e as Piratas do Espaço”. Participou de diversas antologias de quadrinhos e, principalmente, organizou a sensação “Gibi de Menininha” com histórias de terror (e putaria) escritas e desenhadas só por mulheres – inclusive já teve dois volumes (o segundo ambientado no faroeste), antologia essa ganhadora de diversos prêmios dos quadrinhos nacionais. Teve publicado também o quadrinho “As Empoderadas” que conta a história de três amigas que ganham super poderes e tornam-se super-heroínas. 

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As obras:
Ménage: do Marcatti, Laudo e da Germana. Os três se juntaram para fazer histórias doidas, normalmente envolvendo putarias e a cada número com um tema em comum. O do primeiro número é “armário”. Do número #2 será livro. Cada um deles escreve e desenha uma história, que pode ser fechada ou ter continuação. A do Marcatti tem um cara que mora num armário e é apaixonado pela sua barriga (mais que isso só lendo pra entender, ou não). A da Germana conta sobre dois casais vizinhos que criam uma relação de intimidade de um jeito surpreendente em meados dos anos 50. A do Laudo, fechando o volume, conta sobre um casal evangélico que não conta tudo um pro outro.

GdM Apresenta: Patrícia: da Germana. E Gibi de Menininha deu frutos e pequenas histórias que serão apresentadas pelas autoras, começando por essa escrita e desenhada pela Germana. Conta a história de uma garotinha que mora com seus avós enquanto sua mãe estuda fora. Toda rua tem uma garota como essa, como a Patrícia. O problema é ter gente que não sabe disso e querer o mal das pessoas. Plot twists à parte, é uma história bem divertida, redondinha, uma das melhores coisas que já li da Germana e que além do terror, claro, tem muitas referências com coisas atuais.

Só mais uma história de uma banda: da Germana, também. Anos 90, MTV, bandas alternativas (e pop), misturado com Youtube, Instagram, Facebook, influencers e relacionamentos. Não vou dizer que é a obra-prima da Germana, pois ainda não li Lizzie Bordello (shame on me!) e ainda acho As Empoderadas seu melhor trabalho, mas é um quadrinho muito bom e cheio de referências legais. Os personagens estão bem trabalhados, sendo apresentados pouco a pouco. Conta a história de um grupo de amigos que possui um canal de vídeos que quer resgatar uma banda dos anos 90 chamada Cecília não sabe cantar que fez certo sucesso na época e acabou repentinamente. Ao longo da história ficamos sabendo o que rolou para acabar a banda e se os influencers conseguem fazer sua matéria.

O que têm em comum esses trabalhos, além da figura da Germana Viana? Todos eles foram financiados pelo Catarse e impressas na impressora do Marcatti. Tanto Menáge como Só mais uma história de banda, foram campanhas do tipo flex, ou seja, independentemente de conseguirem alcançar a meta, seriam publicadas, e possuem um prazo maior. Normalmente nesse caso, os autores acabam tendo de colocar dinheiro do próprio bolso para pagar parte do valor da publicação. Não foi o caso desses projetos, que em poucos dias (acho que não foi nem um mês de campanha) conseguiram bater a meta para impressão e envio dos materiais e com isso as campanhas foram encerradas mais cedo. Lógico que o fato de serem quadrinistas com algum tempo de estrada, com muitos seguidores em redes sociais e apoiadores, rapidamente conseguiriam bater a meta, mas foi uma forma bacana de se autopublicarem.

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