‘Guerra Civil’ aborda consequências pós-polarização

O que aconteceria se a extrema-direita conseguisse o que quer?

Escrito e dirigido por Alex Garland (Ex Machina), Guerra Civil (Civil War) parte de um país fragmentado. Dissolvido em conflitos internos como nos dias de hoje, os Estados Unidos veem seus estados se enfrentarem em duas coalizações que buscam a vitória. De um lado, um triunvirato apoiando um presidente que almeja impor sua vontade sobre a democracia norte-americana e do outro o restante do país se virando contra o maior e mais poderoso armamento do mundo esperando vencer com a força da maioria.

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No meio de tanta loucura, jornalistas atravessam os EUA em busca das melhores informações e ângulos da história. É quando a equipe formada pela fotojornalista Lee (Kirsten Dunst, talvez em sua melhor atuação na carreira) e o repórter Joe (Wagner Moura, assim como sua colega em um trabalho para lá de oscarizável) recebe uma informação exclusiva da localização do homem por trás de todo conflito (Nick Offerman faz o presidente) e resolvem tentar uma entrevista exclusiva, com todos os riscos que o jornalismo de guerra traz. A jornada começa com dois colegas: o experiente jornalista Sammy (Stephen McKinley Henderson,  em um trabalho que também merece atenção da academia) e a aspirante a fotojornalista Jessie (Cailee Spaeny).

Se numa guerra, a verdade é a primeira baixa não é difícil entender quais os perigos inerentes para a profissão de jornalista. Os quatro protagonistas se dividem em arquétipos do repórter como conhecemos. Lee é a veterana de coberturas que já parece cansada de tudo o que a profissão lhe fez ver, mas segue trabalhando com mais serenidade do que cansaço enquanto Joe é o jornalista com mais experiência do que juventude e mais vigor e coragem do que sabedoria. Sammy é aquela sumidade que todos admiram oficialmente, mas pelas costas questionam se é capaz de cumprir o deadline de uma profissão que exige tanto do corpo. Jessie é a típica foca: atrapalhada, tímida e com mais coragem do que qualquer outra coisa necessária para o bom jornalismo. Todos no afã do furo da guerra.

Se as atuações viscerais em Guerra Civil chamam a atenção o tempo todo, espanta como Garland conseguiu entregar um trillher político sem ser panfletarista. Embora seja óbvio que o filme passa um recado de para onde Donald Trump está levando os Estados Unidos, não há nenhum momento que esta insinuação seja óbvia e é provável que veremos o alt-right norte-americano tentando inverter os lados da história mas está tudo lá: a loucura, a negação da verdade, o militarismo e a ignorância e burrice exaltadas como virtude.

Em época pré-eleitoral, espera-se que Guerra Civil consiga fazer os Estados Unidos a acordarem de um longo delírio e, por extensão, que isto afete positivamente outros países. Com a palavra, o (e)leitor.

Nota: 10

Confira o trailer de Guerra Civil:

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