Frank Castle e seus fantasmas (crítica COM spoilers)

Nota do editor: caso você não queira ler spoilers, leia a crítica de Carlos Carneiro.

Neste mês estreou uma nova temporada da série Justiceiro, disponível na Netflix. Em certa medida, a série retoma basicamente de onde encerrou a primeira temporada, com o intervalo de apenas alguns meses. Depois que Frank Castle terminou de se vingar das pessoas responsáveis pela morte de sua esposa e filhos. Seu antigo amigo Billy Russo encontra-se gravemente hospitalizado depois do último enfrentamento com Castle. Dinah Madani, agente da Segurança Nacional, anda sonha em se vingar de Russo.

No começo desta temporada, Castle está na estrada, em certa medida para tentar fugir de seus fantasmas. Um início um pouco descolado de toda a série. ele não apenas está relaxado, parecendo até se sentir confortável nessa vida livre na estrada. Conhece uma bela mulher, Beth, para quem abre seu coração e esboça inclusive que poderia vir a manter um relacionamento sadio. Contudo, um ambiente assim, tão conto de fadas, não combina com a vida do Justiceiro, e logo a confusão esbarra nele.

O espectador é apresentado à Amy (inicialmente chamada pelo nome falso Rachel) quando a jovem esbarra em Castle. Com o passar dos episódios, descobre-se que a Amy é parte de um grupo de jovens que recolhia materiais a serem usados em chantagens. Os jovens usados no esquema pouco tinham noção do que exatamente estavam fazendo. São justamente algumas fotos que fazem Amy entrar na mira de Pilgrim, um ex-neonazista agora convertido a um cristianismo fundamentalista, que não hesita em matar qualquer pessoa que possa se colocar em seu caminho. Ele trabalha para uma rica família, os Schultz, que garantem a Pilgrim não apenas abundantes recursos, mas também uma milícia preparada para executar suas ordens.

Pilgrim tem uma tarefa bastante clara: os Schultz utilizam seus serviços para que sejam eliminadas pessoas e provas que possam atestar a orientação sexual de seu filho homossexual, David, um famoso senador. As fotos que colocam Amy na mira do perigoso assassino são justamente do senador beijando outro homem, um empresário russo.

Castle acaba se envolvendo nessa briga ao tentar proteger Amy. Contudo, ao longo dessa relação bastante agitada, Castle e Amy vão desenvolvendo uma relação semelhante à de pai e filha. Amy é um pouco mais velha do que seria Lisa, a filha morta de Castle, e também carrega uma vontade de vingança por ter visto amigos e pessoas próximas serem brutalmente assassinados. Pode parecer meio doentio, mas em certa medida Castle vai ensinando a sua “filha” algumas coisas básicas não apenas para a própria proteção, mas também para o caso de querer caçar seus inimigos.

Pilgrim não é o único fantasma que persegue Castle. Billy Russo acorda do coma, bastante desorientado e sem memória, e suas tendências violentas estão bastante descontroladas. Não se lembra que Castle o havia caçado e desfigurado seu rosto. Quando começa novamente a cometer crimes e Castle o persegue, descobre que seus ferimentos foram causados quando o antigo amigo tentou impedi-lo uma primeira vez.

Portanto, a narrativa desta temporada conta com essas duas linhas paralelas, o que se torna um problema para Castle. O leal Curt, amigo de Castle, afirma em certo momento que não seria possível lutar uma guerra em duas frentes. E, de fato, ao fazer isso, Castle não apenas comete erros, como é capturado pela polícia, além de cair numa armadilha de Russo.

Quem acaba pondo fim às ações de Russo é Dinah, enquanto Castle precisa se ocupar com Pilgrim e proteger sua “filha”. Dinah atira em Russo e o deixa bastante ferido, quase morto, mas ainda podendo escapar. Castle termina o serviço, pondo fim ao vilão, bastante debilitado. Pilgrim, por outro lado, em certa medida é redimido para que possa cuidar de seus filhos, depois da recente morte de sua esposa. Quando Pilgrim tenta desistir do serviço, seus filhos são sequestrados pelos ricos contratantes, obrigando-o a terminar o que havia começado. No final das contas, quem recebe a devida punição do Justiceiro são os Schultz.

No geral, a segunda temporada tem mais ação se comparada à primeira. O ponto mais importante desta temporada certamente é ver Castle abrindo o coração, não apenas para uma nova mulher, mas principalmente por se dispor a colocar outra pessoa em sua vida, Amy, alguém que, apesar do relacionamento um tanto quanto desajustado, torna-se alguém para criar, proteger e até mesmo amar.

Os temas políticos acabam passando de forma bastante breve e superficial. Colocar em destaque um ex-neonazista convertido ao fundamentalismo cristão é algo que não tem como não chamar a atenção em uma conjuntura como a estadunidense. Também não pode passar batido, ainda que mencionado de forma bastante superficial, a corrupção intrínseca à relação entre capital e políticos. Contudo, embora esses temas estejam lá e acompanhem toda a narrativa, não são aprofundados ou problematizados de forma mais densa.

Castle, apesar de mais velho e sofrendo ainda mais feridas, continua em forma para combater os criminosos. Sua postura de juiz e carrasco, decidindo quem vive e quem morre, continua a ser uma grande polêmica. Então, que continue esse debate em aberto, enquanto Castle vai limpando as ruas.

Nota: 8

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