‘Flow’ talvez seja a grande surpresa do Oscar 2025

Um filme sobre sobrevivência e esperança

Se nós, brasileiros, estamos pra lá de empolgados com as indicações de Ainda Estou Aqui, imagine os letões que, pela primeira vez, têm um indicado ao Oscar pra chamar de seu! E em duas categorias! Trata-se de Flow (Straume), que concorre para Melhor Animação e Melhor Filme Internacional.

Sem personagens humanos e nem diálogos, o filme segue um gato solitário que perde sua casa em uma inundação. Sem mais, ele logo se vê dependendo de animais que, inicialmente, lhe despertam medo. E assim se forma um grupo de sobreviventes bastante peculiar constituído por Gato, Capivara, Lêmure, Pássaro-Secretário e Cão Labrador.

Apesar de estar classificado como “infantil”, é preciso dizer que a trama não é muito leve. Afinal, passa-se em um mundo onde humanos não existem mais, e os personagens estão tentando sobreviver a uma tragédia de proporções apocalípticas. Em certos aspectos, Flow lembra a série documental O Mundo Sem Ninguém (Life After People) do History Channel (disponível no Pluto TV). Gato vive em uma casa que claramente já foi habitada por humanos (com muitas estátuas de gato no quintal). Lêmure é um acumulador de quinquilharias humanas. O barco foi construído por humanos e passa por ruínas de civilizações humanas. Até o comportamento brincalhão de Cão Labrador sugere que já teve uma família humana.

Mas, afinal, o que aconteceu com os humanos? Não importa, a questão parece ser que o mundo não precisa de nós para continuar existindo. Além da mensagem ambiental, Flow parece ter outro ponto em comum com Robô Selvagem (The Wild Robot), outro indicado ao Oscar, que é a questão da gentileza como ferramenta de sobrevivência. Afinal, os personagens só sobrevivem porque se ajudam mutuamente. E é curioso ver como protagonista um gato, um animal naturalmente desconfiado, que de repente se vê precisando confiar em outros para sobreviver.

Bem, comecei o review mencionando a empolgação do povo da Letônia com as indicações de Flow. Para começar, o Globo de Ouro de Melhor Animação faturado em janeiro está exposto ao público no Museu Nacional de Arte da Letônia. O site de órgão oficial de turismo criou uma página para ajudar na divulgação do filme, que já é o mais visto do país com uma bilheteria que passa de 300 mil espectadores. Os profissionais envolvidos receberam honrarias do governo e prêmios em dinheiro, os mesmos dados a medalhistas olímpicos. E fez com que pela primeira vez o Ministério da Cultura da Letônia anunciasse um grande investimento no cinema nacional, incentivando a indústria audiovisual a levar mais filmes a festivais internacionais. Além do Gato ter ganho várias ilustrações pelas ruas e até uma estátua na capital.

Dirigido por Gints Zilbalodis, que escreveu o filme com Matīss Kaža, Flow foi inteiramente renderizado no software de código aberto Blender. Apenas cinco pessoas trabalharam na animação, e o design de som de Gurwal Coïc-Gallas utilizou sons de animais reais. Sendo que a “voz” do Gato é de sua própria gata, Miut. Já o som real de uma capivara foi considerado muito desagradável, sendo usado o de um camelo bebê no lugar.

Flow chegou aos cinemas brasileiros na última quinta-feira, 20 de fevereiro. É uma trama de esperança, apesar dos pesares. E que de certa forma deixa o recado para cuidarmos melhor do planeta ao qual chamamos de lar.

Nota: 9,5

Confira o trailer:

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