A atriz Viola Davis fez uma revelação importante sobre o papel que vê como mais representativo em sua carreira: o da professora de direito Annalise Keating, na série How To Get Away With Murder. O depoimento foi dado durante o evento Cidadão Global, promovido pela editora Globo, com apoio do Banco Santander e o jornal Valor Econômico. O POPOCA conferiu tudo. Ronaldo Lemos, que ancorou o evento online, perguntou à estrela de Hollywood qual teria sido o papel em que ela teria encontrado sua voz.
++ Como explicar às crianças pretas que o Pantera Negra morreu?
“Foi em How To Get Away With Murder. Porque na minha visão sempre soube que era Viola Davis. Mas ali eram sapatos muito grandes para meus pés, um papel importante em um canal importante e principal. Era um papel sexual, sociopata e que geralmente não são dados às mulheres não-brancas e foi escrito para uma mulher negra à frente. Eu pensava naquilo que aprendi na Juilliard University, mas também o que havia ouvido na carreira. ‘Esse papel não é para você. Você não vai ficar bem’. E essas coisas voltavam para mim na ocasião e isso foi dito para mim”, revelou.
A série de Shonda Rimes chegou ao fim em maio deste ano após seis temporadas de enorme sucesso. Viola Davis já havia sido indicada ao Oscar por Histórias Cruzadas, mas só venceria em 2017 em Um Limite Entre Nós. How To Get Away With Murder acabou acompanhando sua consolidação em uma Hollywood que ainda busca ser menos racista. E Viola viu isso no início da produção.
“Teve um crítico de televisao que disse que não iria assistir a série porque não sentia que a personagem era vulnerável e bonita o suficiente. E sei que ele era branco. Ele preferiu assistir Scandal. Temos que tomar cuidado com isso, é uma microagressão que 400 anos de discurso permitem. Encontrei minha voz como Annalise Keating porque redefini como enxergam as mulheres negras na TV”, criticou. “Por que nós aceitamos essa mentira que nos foi dita por mais de 400 anos? Quando ganhei o papel, pensei ‘preciso estudar a vida e a primeira imagem é de sexualidade, manipulação e feminilidade…’ A personagem sabia que podia manipular o marido porque tem um corpo fantástico. Essas mulheres existem e nem sempre as vemos ali e foi o que tentei canalizar como atriz. E depois de pegar esse papel foi o que tentei representar. Afinal, há uma diferença entre ser sexy e ser sexual. E foi aí que encontrei minha voz como artista e mulher negra. Parar de pedir desculpas e usar uma máscara para que outros me aceitem”, afirmou.
Na série, um dos momentos mais marcantes é quando Annalise Keating tira sua peruca. É uma cena marcante já que o cabelo da personagem é diferente do que Viola usa no dia a dia. “Foi um acordo que fiz para tirar a peruca. É uma forma de quando nosso rosto não encaixa em um padrão ganharmos menos dinheiro. Não foi só a peruca que tirei, foi uma máscara”, revelou Viola.
A atriz estará em A Voz Suprema do Blues, produção da Netflix, programada para estrear no dia 18 de dezembro. É o último filme que Chadwick Boseman filmou antes de morrer.