O anúncio de Dexter: New Blood foi para muitos uma esperança de ver o personagem-título ter um desfecho mais adequado. Pessoalmente, nunca botei muita fé nisso. Mas resolvi arriscar, já que o máximo que poderia perder era uma hora por semana. E eis que eu tinha razão, foi tudo perda de tempo.
Atenção: Contém spoilers!
É irrelevante dizer o quão Dexter (Michael C. Hall) se tornou qualquer coisa menos o retrato de um psicopata. Isso porque já na série original os roteiristas pareceram ter aberto mão de quaisquer pesquisas sobre psicopatia, ou até que rasgaram todos os estudos a respeito. Talvez seja uma consequência inevitável de se romantizar um distúrbio psíquico que torna uma pessoa incapaz de sentir coisas como empatia, compaixão e até mesmo amor.
++ Leia também: King Richards é o filme edificante da vez
Não levem a mal, gostava muito da série original. Em especial das primeiras temporadas. Mas com o tempo, várias leituras e pesquisas passei a perceber que um psicopata com “senso de ética” para matar apenas criminosos não só é irreal como totalmente fora de questão. E acredito que se Dexter fosse lançada hoje, do jeito que foi, teria um fandom majoritariamente de reacionários.
E foi toda essa romantização que provavelmente evitou que Dexter tivesse o devido desfecho na série original. Como muitos apontaram, ele tinha se tornado humano demais, e ninguém o queria morto ou preso. Então quando o personagem matou Logan (Alano Miller) aos 45 do segundo tempo de New Blood, colocando “não ser pego” a frente de “não matar inocentes”, foi um dos únicos momentos em que Dexter foi um psicopata. Mas ele foi preso, reconhecido por Batista (David Zayas), julgado e condenado a prisão perpétua como manda a lei da Flórida? Não, foi sacrificado pelo próprio filho Harrison (Jack Alcott).
O próprio showrunner Clyde Phillips reconheceu em uma entrevista ao Deadline que dessa vez o protagonista não poderia sair impune. Mas daí a ser morto pelo filho que tem sua própria carga de danos psicológicos, e que novamente saiu pelo mundo sem nenhum apoio me faz questionar se isso realmente é o que deveria acontecer.
“Nós sabíamos que isso tinha que acontecer, e acho que tinha que acontecer tanto para o público quanto para o personagem. Vê-lo ser pego outra vez e sair ileso é um desserviço ao público. E eu acho que há uma certa verdade na autenticidade dessa narrativa.”
Outra coisa que desagradou foi o rumo que o plot da investigação de Angela (Julia Jones) e Molly (Jamie Chung) sobre as mulheres desaparecidas levou. A interação entre a chefe de polícia e a podcaster foi tão orgânica que não seria ruim se elas ganhassem uma série só delas. Na verdade, seria uma ótima ideia. E tudo corria de forma instigante, chegaram a ficar no rastro de Kurt Caldwell (Clancy Brown). O que fez a morte da perspicaz Molly pelas mãos dele soar como o pior banho de água fria da história. Pra completar, Dexter ter que entregar para a sagaz Angela o local da “galeria de troféus” de Kurt foi ultrajante.
Para não faltar com a justiça, Kurt foi um antagonista a altura. Ele sim um verdadeiro psicopata, com uma visão grotesca de certo e errado. Tanto que seu joguinho com Dexter foi uma das poucas coisas interessantes que aconteceram na trama. Mas a verdade é que se fosse uma série só com Kurt sendo investigado por Angela e Molly, sem nenhuma relação com Dexter, seria bem melhor.
Teria ainda muitas falhas a mencionar, como o péssimo aproveitamento da participação do querido Batista. Mas ficarei com apenas uma para ver se alguém ajuda a resolver esse mistério: Na hora de matricular Harrison na escola, como ninguém viu nos documentos que o nome do pai é “Dexter Morgan” e não “Jim Lindsay”?
O pior é que Clyde Phillips não descarta a possibilidade de um spin-off focado em Harrison. Que os deuses da televisão não permitam que isso aconteça.
Nota: 5
Confira o trailer: