Com o falecimento do ator Chadwick Boseman na última sexta feira, 28/08, que ficou conhecido por ter interpretado o personagem Pantera Negra dos quadrinhos da Marvel Comics nos cinemas, muito foi falado sobre a questão de representatividade e a importância desse “acontecimento” para a população negra.
++ Desconhecemos o tamanho de Chadwick Boseman
Sendo eu um homem branco, cis, hétero, de classe média, tenho inúmeros exemplos de herois, super-herois, personagens da literatura, do cinema e das histórias em quadrinhos para me espelhar, dos quais posso me sentir dono, fantasiar com eles. Para as pessoas negras, essa representatividade é muito menor e por isso também é muito mais importante quando aparecem.
Pantera Negra, por exemplo, surge nos quadrinhos em julho 1966, ou seja, pouco antes da formação do Partido dos Panteras Negras, de outubro do mesmo ano, e foi o primeiro super heroi negro de uma das grandes editoras de quadrinhos estadunidenses. Depois dele, vieram Falcão, companheiro do Capitão América, em 1969; o Lanterna Verde John Stewart, da DC Comics em 1971; Luke Cage, da Marvel em 1972, no auge da blaxploitation; e Blade, o caçador de vampiros, em 1973, para ficarmos nesses primeiros. Como já foi dito anteriormente aqui no site mesmo, não é possível majorar a importância de Pantera Negra na cultura pop e de seu intérprete. Nesses últimos dias, apareceram na internet diversos vídeos, posts, fotos, tweets, em homenagem a Chadwick e principalmente ao heroi que ele interpretou em quatro filmes. Qualquer pessoa com o mínimo de empatia fica arrepiada vendo as declarações das pessoas negras que se vêem representadas nas telas de cinema nos filmes em que aparece o Pantera Negra. E como uma pessoa branca pode aumentar essa empatia citada pouco acima? O preconceito surge por não conhecer sobre algo, alguém ou algum lugar. Quanto mais você conhecer sobre aquilo, em tese, menor será seu preconceito.
Como branco, nunca saberei como é ser um negro nessa sociedade racista e preconceituosa que vivemos. Como é herdar o histórico da escravidão, a falta de oportunidades por conta da sua cor de pele e a discriminação de agentes de segurança. Mas lendo, ouvindo e assistindo história de (e sobre) personagens negros, é possível aprender um pouco sobre as experiências de ser negro.
Saindo desse mercado mainstream dos Estados Unidos e focando nos quadrinhos independentes nacionais (que são o foco dessas minhas colunas normalmente), segue uma breve lista de obras e artistas brasileiros negros e personagens negros para prestar atenção. Não necessariamente eles vão tratar de questões exclusivamente negras, mas o trabalhos deles e delas perpassam isso:
Jeremias – Pele: graphic MSP escrita por Rafael Calça e desenhada por Jefferson Costa, lançada em 2018 (mesmo ano que saiu no cinema Pantera Negra…)que já se tornou um marco no quadrinhos brasileiros. Jeremias, personagem secundário da Turma da Mônica e, até então, único negro da turminha, alçado à posição de protagonista em história que trata do preconceito e da condição de ser negro no Brasil.
Marcelo D’Salete – autor, artista plástico, professor e pesquisador, trabalha com as questões dos negros há anos em seus quadrinhos, dentre os quais se destacam Encruzilhada, Cumbe e sua obra-prima Angola Janga, os dois últimos tratando de movimentos de lutas dos negros escravizados no Brasil e, principalmente, sobre o Quilombo de Palmares.
Alex Mir, com diversos desenhistas, produz a série Orixás que já tem 5 edições e traz ao grande público, na forma de quadrinhos, diversos mitos e histórias do povo iorubá e seus deuses. Nessa mesma linha, temos Contos dos Orixás, de Hugo Canuto, que traz uma aventura desses personagens de mitos iorubás com um visual no estilo Jack Kirby dos anos 60.
Carolina: De Sirlene Barbosa e João Pinheiro, é uma biografia da escritora negra, descoberta em uma favela de São Paulo, Carolina de Jesus, autora de Quarto de Despejo, entre outras obras escritas com sua linguagem peculiar.
Por fim, no Instagram e em outras redes sociais, temos diversas ilustradoras, desenhistas e cartunistas negras que também mostram seus trabalhos. Algumas delas já têm material impresso e podem ser contatadas pelas suas redes:
Marília Marz @mariliamarz
Ana Cardoso @anacardos_art
Bruna Bandeira @imagineedesenhe
Bennê Oliveira @leve.mente.insana
Ana Paloma @apalomart
Flávia Borges @breezespacegirl
Nathalia @sweetilustra
Dika Araújo @dikaraujo