Juliete Society

Juliette Society

O segundo livro escolhido por mim para o Desafio Literário Popoca deste mês foi Juliette Society (o primeiro livro deste mês está comentado aqui). Apesar de suas eventuais qualidades literárias, a obra acabou ganhando mais notoriedade pelo fato de sua autora, a atriz Sasha Grey, ter atuado alguns anos na indústria pornográfica. O passado da autora, em alguns casos, foi bastante destacado para difundir preconceitos sobre o romance (ou também sobre suas tentativas de fazer filmes fora do mercado pornográfico), dando vazão a comentários bastante moralistas.

Sim, a história de Juliette Society tem um forte tom erótico, com descrições bastante vivas e muito bem realizadas de cenas de sexo. Este é um ponto importante, afinal coloca a jovem escritora como um destaque na literatura erótica mais recente. Claro que essa qualidade literária não tem uma relação direta com o passado da escritora, mas com sua capacidade de narração e descrição, realizadas de forma bastante competente.

O Desafio Literário propunha para o mês de fevereiro um livro que tivesse uma festa como momento marcante na narrativa. No caso de Juliette Society a festa está relacionada a uma espécie de clube secreto formado por figuras poderosas – políticos, empresários etc. – que se reúnem para fazer sexo. Embora sem ter exatamente o perfil dos frequentadores daquele clube, a protagonista do romance acaba conseguindo entrar em uma dessas festas e disso desenrola alguns fatos importantes em sua vida dali em diante.

Essa ideia não é novidade, tendo sido trabalhada, por exemplo, no filme De olhos bem fechados, dirigido por Stanley Kubrick. E, de fato, essa talvez seja a maior fragilidade do romance, ou seja, não possuir uma narrativa central que apresente algo mais criativo. Contudo, apesar dessa limitação do romance, o que chama bastante a atenção nesse aspecto é a forma como a narrativa constrói a aproximação da protagonista com o clube fechado, mesclando suspense e erotismo de forma bastante equilibrada.

O que o romance possui de positivo, além da excelente forma como são descritas as cenas de sexo, é justamente um conjunto de reflexões apresentadas por Grey. Elas vão desde análises sobre técnica de narração fílmica, passando por teoria e história do cinema, até a sentimentos e expectativas de uma jovem mulher na luta cotidiana de sua vida. Não seja possível afirmar com certeza, mas possivelmente muitas dessas reflexões têm relação com a vida íntima e a subjetividade da própria autora.

O romance não é nenhuma obra-prima, mostrando ainda uma narrativa muitas vezes pouco coesa e com partes que pouco contribuem para o romance. Seu maior acerto talvez seja colocar em destaque e trabalhar muito bem as expectativas de uma jovem mulher sobre sua sexualidade, seus desejos e suas fantasias, na maior parte das vezes não satisfeitos no cotidiano opressor da sociedade. Isso acaba fazendo-a fantasiar sobre o que poderia possuir, seja um professor da universidade, seja uma sociedade secreta que atendesse a essas expectativas.

Como esperava Anais Nin, décadas atrás, é plenamente possível uma literatura erótica que não apenas expresse as particularidades da sexualidade feminina como tenha notáveis qualidades literárias, superando em definitivo histórias repetidas sobre conquista, virilidades e gozo masculinos. Grey mostra um grande potencial para cumprir essas expectativas de Nin.

Quem tiver coragem de se despir dos preconceitos em relação ao passado da autora certamente pode ter uma prazerosa experiência de leitura com Grey.

 

Nota: 8

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