Daisy Jones & The Six: Série não chega à altura do livro

Produção do Prime Video cativa, mas é simplória.

Em 2019 a escritora americana Taylor Jenkis Reid lançou Daisy Jones & The Six (publicado no Brasil pela Editora Paralela), livro que fez (e ainda faz) muito sucesso homenageando a cena musical de Los Angeles na década de 1970. Em formato epistolar, a obra narra em entrevistas a história da fictícia banda The Six e das fictícias cantoras Daisy Jones e Simone Jackson. O livro bombou de cara, e não demorou para que a Hello Sunshine (produtora de Reese Witherspoon), em parceria com a Amazon Studio, adquirisse os direitos de adaptação.

A minissérie estreou no Prime Video em 02 de março deste ano e teve seus 10 episódios disponibilizados no decorrer de quatro semanas. Teve uma boa recepção, ficou em 1º no Top 10 da plataforma em diversos países e teve críticas muito positivas. De fato, a produção merece todos os elogios que recebeu. Mas não chega aos pés do texto original.

Não se trata daquela máxima elitista de que “o livro é sempre melhor que o filme/série”. Para falar a verdade, existem muitas adaptações melhores que os livros. Só que a minissérie Daisy Jones & The Six peca por ser simplória, censurando e alterando fatos para suavizar a trama. Sendo que um dos aspectos positivos do livro é justamente a abordagem de temas tabus, que combina perfeitamente com seus personagens complexos.

Acredito que a série só não foi um desastre por causa do elenco. Mesmo que na adaptação os personagens tenham perdido um pouco de sua complexidade, o elenco conseguiu entregar toda a essência do que é apresentado no livro. Riley Keough foi impecável como Daisy, que mesmo com uma jornada resumida transmite toda a energia caótica que a personagem exigia. E apesar de nunca ter cantado profissionalmente antes, Keough deixaria seu avô Elvis Presley orgulhoso de suas performances no palco. O mesmo pode ser dito de Sam Claflin, que foi rejeitado nos testes para Os Miseráveis e Cats mas não desistiu de fazer um musical. Aprendeu a tocar guitarra para interpretar Billy Dunne, e entregou algo impossível de achar defeitos.

Os elogios se repetem para os outros integrantes da banda, só é uma pena que não tenham mais tempo de tela. E é aí que se dá outro prejuízo da série em relação ao livro. Por exemplo, nas alterações feitas Eddie (Josh Whitehouse) não é tão antagônico a Billy apesar das constantes insatisfações com o líder da banda. Mas você consegue olhar para Whitehouse e ver o Eddie do livro. Bem como Karen (Suki Waterhouse), a tecladista empoderada e sem papas na língua que teve muitos de seus momentos cruciais cortados ou resumidos. Graham (Will Harrison) foi relegado a pouco mais do que irmão caçula de Billy quando poderia ser muito mais. Warren (Sebastian Chacon) tem a vibe descontraída do personagem no livro, mas não a ênfase. E Rod (Timothy Olyphant) foi de empresário a gerente de turnê, aparecendo metade do que poderia.

Reconheço que algumas mudanças foram positivas. Camila (Camila Morrone) sempre foi uma personagem forte, mas ganhou um propósito além de ter sua vida regida por Billy. Simone (Nabiyah Be) teve mudanças que deixaram a rainha da disco music mais interessante, apesar dessas mudanças terem deixado-a fora de momentos chave. Já Teddy (Tom Wright) teve alterações físicas, de personalidade e de trajetória que o deixaram mais condizente com o contexto da trama. Embora algumas dessas mudanças tenham alterado o significado de algumas partes.

Está certo que de modo geral a adaptação de Daisy Jones & The Six mantém o contexto original. É possível perceber as referências às bandas que serviram de inspiração para a história, como The Civil Wars, Eagles e principalmente Fleetwood Mac. Esta cuja conturbada produção do álbum Rumours foi a maior inspiração para Reid escrever o livro. E é claro que com todas essas inspirações maravilhosas não poderia faltar boa música na série. A trilha original foi composta por Phoebe Bridgers, Jackson Browne e Marcus Mumford com produção de Blake Mills. As canções são viciantes, e o álbum Aurora (que vira sonho de consumo dos leitores do livro) ganhou uma versão física em LP. Porém, confesso ser um tanto frustrante que as letras não sejam as mesmas do livro.

Mudar a narrativa de um livro de entrevistas para um documentário foi uma alteração necessária, já que estamos falando de uma obra audiovisual. Entretanto, sinto que aqueles diferentes pontos de vista de um mesmo acontecimento, tão característicos e simbólicos no livro, acabaram se perdendo. Além de muitas frases marcantes. Narrações em off durante algumas dramatizações seriam um jeito fácil de resolver esse problema.

Outra mudança considerável é a diferença de tempo entre a separação da banda e as entrevistas. Enquanto no livro se passam cerca de 40 anos, na série se passam 20. É possível que a escolha tenha sido feita para não precisar escalar outros atores para interpretar as versões mais velhas ou não precisar envelhecê-los muito. Porém, é possível que essa mudança tenha sido feita com o intuito de ampliar as chances de uma sequência. O próprio showrunner Scott Neustadter afirmou em um painel do Deadline que gostaria de produzir uma 2ª temporada. Pessoalmente, não sei se é uma boa ideia.

Daisy Jones & The Six foi desenvolvida por Neustadter e Michael H. Weber. Também estão na produção-executiva Lauren Neustadter, Witherspoon, Will Graham e a própria Reid, com James Ponsoldt na direção. É uma boa série para assistir, envolvente e cativante. Mas parece uma versão censurada do livro, o qual recomendo irrevogavelmente que seja lido antes.

Nota: 7,5

Confira o trailer:

 

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