Em poucos dias faremos o lançamento do livro Cruzando universos: representações dos super-heróis no tempo presente. O livro reúne análises das séries baseadas em personagens da DC que compartilham o Universo Arrow e da Marvel que compõem o grupo Os Defensores. Como ocorreu nos ensaios reunidos em Para além dos X-Men, também publicado pela editora Todas as Musas, a proposta do livro passa por realizar discussão a partir de temas e conceitos pertinentes à Filosofia e às Ciências Humanas e Sociais.
Essas séries de televisão analisadas no livro foram produzidas em um contexto específico, que no livro chamamos de Era Trump. Essa época está marcada pelo ascenso da intolerância às diferenças, pelo crescimento de figuras políticas autoritárias e por um recrudescimento da repressão do Estado. Ainda que de forma indireta, as séries expressam as contradições, dilemas e preocupações do tempo presente em que são produzidas.
Podemos mencionar alguns exemplos. Na série Supergirl foi abertamente abordado o tema da intolerância, colocando os extraterrestres como um “outro” que deveria ser não apenas combatido com violência, mas inclusive excluídos da convivência da sociedade. Esse também é um tema que aparece em “Jéssica Jones” em relação a pessoas que foram vítimas de experimentos ilegais e acabaram adquirindo poderes.
Essas séries também são ricas em mostrar figuras autoritárias que se apresentam como salvadores. Possivelmente o exemplo mais claro é Wilson Fisk em seu embate com o Demolidor. Esse tipo de figura também aparece em Arrow, como no caso do prefeito corrupto Sebastian Blood.
Nas séries o recrudescimento da repressão do Estado está associado à perseguição contra os super-heróis. Essas ações passam principalmente por tentar impedir que os super-heróis denunciem crimes e ações de corrupção de políticos e empresários. Quase todos os personagens analisados no livro viveram maus bocados, ao terem a opinião pública jogada contra eles e verem os vilões mais perigosos se tornarem “heróis”.
Esses são alguns dos temas abordados no livro. As séries, com sua exibição semanal, se tornam uma forma de reflexão sobre a realidade mais imediata, em diálogo com as expectativas das pessoas que acompanham, vivenciam e torcem por seus personagens favoritas. O que cada texto mostra é que esses programas e seus protagonistas são uma rica forma de entender a sociedade em que foram realizados e problematizar questões fundamentais do tempo presente.
Originalmente publicado no jornal Linha Popular, Nº 528, em 20 de julho de 2019.