Como humoristas ajudaram a matar Paulo Gustavo e milhares de brasileiros

Ator é mais uma vítima de um governo que recebeu apoio de artistas que riram de uma tragédia anunciada

A morte de Paulo Gustavo parece repentina, mas é uma construção. Desde 2016, há personagens brasileiros que, irresponsavelmente, têm conduzido o país para um abismo. Ao perecer pelo novo coronavírus, o covid-19, a estrela do humor brasileiro se junta às histórias de milhares de brasileiros vítimas de negacionismo e do fato do governo de Jair Bolsonaro ter desperdiçado as oportunidades de garantir a vacina. Este presidente não chegou lá sem apoio e conseguiu ser normalizado através do humor politicamente incorreto de artistas que têm enorme parcela de culpa.

Houve de tudo nesta sinistra classe artística, inclusive alguns que se arrependeram e outros nem tanto. Durante as eleições de 2018, um ator youtuber chegou a produzir áudios para convencer eleitores indecisos fingindo ser o próprio Bolsonaro. Naquele momento, o então candidato já dizia absurdos inacreditáveis como metralhar a oposição, enviar para centros de tortura e educação a distância em um país onde luz ainda é um luxo em muitos lugares.

Depois de eleito, muitos destes comediantes que são acostumados a interpretar, fazer rir e roubar a atenção não pararam. Alimentaram o riso perante todos que discordassem como se devêssemos remar nessa maré de loucura ou não seríamos dignos de ser levados a sério ou empatia. Houve quem se colocasse no papel de imitar o presidente para jogar bananas a imprensa, em uma tentativa de tentar tirar o foco da sociedade para um governo que foi um desastre anunciado. O entretenimento sempre superará a informação numa disputa de atenção. O problema é quando isso gera mortes como acessório ao invés de claque.

Qual será o papel que essas pessoas acham que têm quando morre cada brasileiro como Paulo Gustavo? Boa parte delas não admitiram culpa mesmo sem apoiar mais o governo. Há até quem queira ser candidato a presidente só pela zoeira, claro. Se ajudar a eleger outros políticos, basta depois agir como se não tivesse nada com isso ou dizer que era só uma piada. Não é.

Não é surpresa que estas pessoas sejam as mesmas que ascenderam antes mesmo de 2016 sempre usando o próprio talento para carregar o que chamam de humor politicamente incorreto. Afinal, o objetivo é mesmo transformar em “mi-mi-mi” tudo que peça empatia e respeito ao próximo. São pessoas com algum carisma e capacidade, mas que escolheram o caminho do riso do ódio, de ridicularizar as dores do próximo ao invés de quem as causa e de abraçar seu próprio ressentimento. Tudo que a gente aqui no POPOCA combate, inclusive.

Felizmente, o Brasil tem humoristas melhores que essa gente ressentida. Tanto de talento quanto de caráter. Gente que nos faz ter mais afeto com o riso porque como o próprio Paulo Gustavo dizia: o amor é ação. É esse riso que vai perdurar no nosso sorriso quando tudo isso passar e lembrarmos dele e de tantas pessoas que perdemos para esta doença e este governo.

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