Finalmente chegou aos cinemas o filme Capitã Marvel e, conforme as expectativas que apontei em um outro texto, o filme não decepciona. Pelo contrário, o filme inclusive supera algumas das minhas expectativas e se coloca entre os melhores do Universo Cinematográfico Marvel (MCU).
Retomando o texto anterior, um dos possíveis problemas que apontei foi o de Capitã Marvel se perder em meio às inúmeras tarefas que poderia assumir, ou seja, apresentar a super-heroína mais poderosa do universo e, ao mesmo tempo, fazer a ligação com os demais filmes do MCU, especialmente entre os dois últimos Vingadores. Contudo, Capitã Marvel optou por centrar sua narrativa em contar o surgimento da super-heroína, fazendo ligações com os demais filmes do MCU somente naquilo que ajudasse na construção da narrativa de Carol Danvers.
Essa escolha fez com que a história tivesse como resultado um filme leve, bem dirigido e com uma história que se explica a si mesma, sem depender de grandes referências externas. Essa opção parece ter desagradado uma parte do público e da crítica, alguns dos quais estavam mais interessados em pistas sobre o último Vingadores do que na história de Danvers. Contudo, as escolhas de roteiro feitas em Capitã Marvel mostraram principalmente respeito à protagonista e à sua trajetória.
O filme também apresenta de forma convincente os poderes de Danvers e porque ela pode ser a última alternativa para derrotar Thanos. E, de fato, Danvers é muito poderosa, tendo de enfrentar sozinha em seu filme de estreia uma das maiores ameaças de todo o MCU. Possivelmente nenhum outro super-herói enfrentou em seu filme individual adversários como os que Danvers teve pela frente.
Outro aspecto que apontei em meu texto anterior foi a escalação de Brie Larson. Com o filme ficou claro a razão de ter de escalar uma grande atriz para o filme, afinal o filme precisava mostrar uma personagem que conseguisse ser complexa sem cair numa introspecção indecifrável. Danvers, ao construir sua personagem por todo o filme, precisou ir de momentos leves, entregando momentos ligeiramente cômicos, a cenas densas de grande dramaticidade. Larson, no final das contas, se mostrou a atriz versátil e talentosa que o filme precisava, mostrando força e fragilidade quando era preciso, tornando impossível pensar em Carol Danvers interpretada por outra pessoa.
O filme, com sua narrativa complexa e cheia de detalhes, tem uma mensagem clara, simples e forte. Danvers teve sucessivas quedas em sua vida, enfrentando difíceis desafios e enfrentando um mundo que a desqualificava apenas pelo fato de ser mulher. Contudo, diante de cada queda, a cada desafio, tendo sempre de procurar dentro de si a força que lhe dava força para se levantar. Essa fonte era algo muito superior a artefato alienígena.
Capitã Marvel, como toda grande obra sobre origens dos heróis, é um filme sobre autodescoberta. Somente assim, entendendo quem é e qual a sua força, que Danvers poderia ser uma super-heroína. E, o mais importante, não precisaria da avaliação ou do julgamento de qualquer outra criatura e muito menos provar nada. Ela precisaria apenas encontra seu caminho, algo pelo que lutar e viver, enfim, estar satisfeita e em equilíbrio consigo mesma.
O filme é excelente, mas não é perfeito. Como optou por contar uma narrativa própria, puxando elementos do MCU que lhe fosse importante, não o fez totalmente, deixando pequenas brechas no roteiro. Em segundo lugar, há um desnível entre Larson e o restante do elenco. Larson literalmente rouba a cena, fazendo com que as melhores aparições dos demais personagens sejam justamente quando interagem com a protagonista. Esses são pequenos detalhes pelos quais o filme não chega a ser uma obra-prima, ficando por muito pouco, entre os filmes do MCU, apenas atrás de Pantera Negra.
Nas produções mais recentes, a Marvel tem conseguido equilibrar qualidades fílmicas em obras de entretenimento. Se em outros momentos filmes de diversão se limitavam a comédias toscas, aventuras sem conteúdo e explosões aleatórias de qualquer coisa, o fato é que o MCU vem realizando filmes que vão muito além das piadas sem graça ou das indiretas de conotação sexual comuns em filmes de entretenimento. Além disso, Danvers se tornou, nesses poucos dias desde sua estreia, uma das mais poderosas e marcantes personagens do cinema da atualidade, mostrando que, independente do que venha a acontecer no último Vingadores, esse universo de super-heróis continuará a ter boas histórias e grandes personagens.
Nota: 9