Caminhos do horror no cinema: dos pioneiros ao slasher

Outubro é o mês das comemorações do Dia das Bruxas

O mês de outubro, com as comemorações do Dia das Bruxas, sempre trazem à tona as referências ao horror, inclusive aos personagens famosos criados no cinema desse gênero. Essa é uma trajetória diversificada e cheia de contradições, que mostram um gênero vivo e dinâmico ao longo de décadas.

O Expressionismo alemão: pioneiro do horror no cinema

Os precursores do cinema de horror se remetem ao expressionismo alemão. O medo e o sobrenatural estavam presentes antes disso, como em uma das primeiras adaptações de Frankenstein (1910), no filme O estudante de praga (1913) ou mesmo em algumas obras de George Mélies. Contudo, foi na Alemanha que o horror começou a ganhar forma, em grande medida por conta da incorporação da estética expressionista ao cinema, tendo como um de seus marcos iniciais o filme O gabinete do Dr. Caligari (1919). Essa corrente no cinema tem como características o referencial fantástico, a deformação expressiva, a monstruosidade e a maldade como personagem.

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Um dos elementos fundamentais relacionados ao horror expressionista é seu diálogo com a literatura, sendo o filme Nosferatu (1922) uma das mais comentadas de suas produções. O filme, apesar da mudança de nome, é uma das primeiras adaptações de Drácula ao cinema. O diálogo também se manifestou em diferentes obras, como O Golem (1913) e O Médico e o Monstro (1915). Nesse diálogo com a tradição literária alemã, também foi realizada uma adaptação bastante sombria de Fausto (1926).

Os monstros da Universal

Nos Estados Unidos, o estúdio Universal realizou algumas das adaptações mais conhecidas de obras literárias de horror. São desse processo os filmes clássicos Drácula e Frankenstein, ambos produções de 1931. Nos anos seguintes, os filmes produzidos pela Universal levaram às telas diversas criaturas clássicas do cinema de horror, como a múmia, o lobisomem e o monstro da lagoa. Esse ciclo de filmes da Universal também colocou em destaque os nomes dos atores Boris Karloff e Bela Lugosi.

Esses dois atores também estiveram envolvidos com algumas das principais adaptações de contos e poemas de Edgar Allan Poe realizadas no período, como nos filmes O Gato Preto (1934) e O corvo (1935). Posteriormente, a obra do escritor estadunidense ganharia vida em um ciclo de filmes protagonizados pelo ator Vincent Price e produzidos por Roger Corman. São desse ciclo, entre outros, filmes como O Solar Maldito (1960), Mansão do Terror (1961), Corvo (1963) e A Máscara Mortal (1964).

Hammer

Na década de 1960, os estúdios Hammer começaram a produzir uma série de filmes com muitos dos monstros mostrados nos filmes da Universal, abrindo espaço para atores como Peter Cushing e Christopher Lee. Em uma sequência de filmes livremente baseados em Drácula, Cushing assumiu o papel de Van Helsing em sua caçada ao poderoso vampiro, interpretado por Lee.

Do mesmo estúdio também surgiu a Trilogia Karnstein, produzidos entre 1970 e 1972, que colocou no centro outra personagem literária icônica do século XIX, a vampira lésbica Carmilla. Carmilla é representada como uma mulher independente, mas também cruel, e mostra-se como destruidora da família e de tradições, ao seduzir jovens inocentes. A caçada e o assassinato de Carmilla mostram a forma como a sociedade conservadora encara sua postura de mulheres que se colocam críticas ao patriarcado e aos costumes conservadores.

O slasher

Na década de 1970, em que o as ideias conservadoras se mostram como uma resposta às ações dos movimentos de mulheres, surge aquele que é possivelmente o tipo de filme mais conhecido no cinema de horror. O slasher mostra, em linhas gerais, a história de um psicopata que persegue e mata muitas vítimas, normalmente jovens, restando ao final apenas um único sobrevivente do grupo. Como única sobrevivente, é comum que reste uma jovem mulher, conhecida como final girl, que nessas obras personifica um conjunto de virtudes morais. Sua sobrevivência consiste em uma espécie de redenção, afinal seu comportamento ao longo do filme mostrou ser sexual e moralmente merecedora dessa recompensa.

São exemplos clássicos desse cinema filmes como O Massacre da Serra Elétrica (1974), Halloween (1978) e Sexta-feira 13 (1980).

Sobrenatural

Nesse mesmo contexto dos anos 1970, também surgiram outros tipos de filmes bastante comuns do cinema de horror. Com o estrondoso sucesso de O Exorcista (1973), ganhou fôlego um conjunto de filmes obras colocavam forças demoníacas como ameaça, destacando-se também filmes como O Bebê de Rosemary (1968) e A Profecia (1976). Muitos desses filmes colocam em cena crianças ou jovens possuídos por forças sobrenaturais, além de expressar o conservadorismo da época. Percebe-se, por exemplo, uma apologia aberta à família tradicional, sugerindo que os problemas desencadeados no filme têm relação com a desagregação expressa na composição familiar como a de Carrie e de O Exorcista, onde mulheres sozinhas criam jovens garotas.

Nesse período, também foi criado outro vilão icônico, Freddy Krueger, no filme A Hora do Pesadelo (1984). Nessa obra, o diretor Wes Craven mostra uma série de mortes de adolescentes enquanto dormiam em meio a um surto de pesadelos. Com o desenrolar da história do filme, descobre-se que alguns pais teriam assassinado brutalmente um suspeito de assediar crianças, anos antes, e que o assassino dos jovens nos pesadelos é aquele homem. Ou seja, ainda que de forma sutil e pouco clara, pode-se interpretar que os pesadelos dos jovens personagens podem ser produto de traumas deixados na infância por um eventual assédio sofrido por eles.

Crise

Esses dois tipos de filmes – slashers e de possessão – dominaram o cinema de horror nas décadas seguintes. Houve por parte de Hollywood uma grande exploração comercial dessa cinematografia, especialmente do slashers, até chegar à completa exaustão, no começo da década de 1990. Os filmes ficaram bastante conhecidos por meio de várias sequências, que acabaram fazendo o gênero sofrer muito mais críticas e o público não olhar para o valor artístico de obras do gênero.

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