Quase sessenta anos separam O Pagador de Promessas, palma de ouro de Cannes em 1962, de O Bacurau, vencedor do prêmio do júri do Festival francês. Além do tempo, as duas produções são separadas por evoluções e atrasos que insiste em encarar cultura como gasto, mesmo que no orçamento nacional represente menos do que o impacto do último aumento de salário de ministros do Supremo Tribunal Federal.
Elegendo um presidente que odeia educação, o Brasil parece insistir que a cultura é luxo. Não é. Arte caminha junto com as necessidades de comunicação e diálogo do ser humano, sem a qual, perecemos. E se este argumento não funciona, o fato de que a lei Rouanet gera mais retorno financeiro do que o investimento nela deveria encerrar o debate.
Dirigido pela dupla Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, Bacurau aponta para um futuro de amor ao que representa o país. São muito Brasis em muitas histórias e que a não se esgotam na sétima arte, mas se enriquecem com ela. As contribuições do Projac e da TV Globo na televisão são a prova disso. Como pensar neste cenário sem obras como Roque Santeiro ou Hoje é dia de Maria?
Em 2018, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro preparou um mapeamento do Mercado das Indústrias Criativas do Brasil. No ano passado, mais de 800 mil eram empregadas por um setor. As melhores remuneração vinham do Rio de Janeiro, estado que projetou o presidente Jair Bolsonaro em sua carreira política calcada em ódio e ressentimento. Já é hora de deixar preconceito e complexo de vira-latas de lado e perceber que podemos ser não apenas a terra do futebol mas também o país do cinema.