Nos últimos anos tenho tentado dar preferência a autoras mulheres nas minhas leituras, pois acho que as negligenciamos muito no dia a dia (Harry Potter e 50 tons não contam!). Mas isso acontece também ao longo de toda a nossa história ocidental em todas as artes. Aliás, o POPOCA apoia mudar isto, viu?
SPOILER FREE
Publicado em 2017, Broad Strokes é um livro escrito por uma mulher, Bridget Quinn, sobre mulheres das artes plásticas, especialmente da pintura. Não que todas as 15 mulheres retratadas aqui sejam exclusivamente pintoras, mas em sua maioria são.
A escolha das mulheres para compor o livro é da própria autora, e ela segue uma ordem cronológica que se inicia no renascimento e vai até depois dos anos 2000, incluindo:
- Artemisia Gentileschi – pintora renascentista que por acaso eu conheço e amo de paixão, vale a pesquisa no Google
- Judith Leyster – não conhecia, mas é uma pintora holandesa do século XVII confundida com um grande mestre holandês por conta da alta qualidade do seu trabalho
- Adélaïde Labille-Guiard – pintora da corte francesa do século XVIII, eu também não conhecia, mas a mulher é tão maravilhosa que sobreviveu à revolução francesa, apesar das suas conexões com a monarquia
- Marie Denise Villers – pintora francesa do século XIX que tem como obra-prima o melhor retrato pintado por uma mulher, eu também não conhecia
- Rosa Bonheur – mais uma pintora francesa do século XIX, mais famosa nos EUA do que na França por conta do seu tema favorito: cavalos e outros animais, o que a tornou a pintora favorita do famoso Buffalo Bill. Eu também não conhecia, esta lista está triste nesse quesito, né? Mas é provável que eu já tenha visto pessoalmente alguma obra dela em Oklahoma e não tenha me ligado nisso
- Edmonia Lewis – escultora negra norte americana do século XIX. Só essa descrição já quer dizer muita coisa. Também não conhecia…
- Paula Modersohn-Becker – pintora alemã do início do século XX, um dos primeiros pintores da escola modernista! Autora do primeiro auto-retrato de uma grávida, nua. Eu não conhecia, pois não curto muito essa escola, mas é preciso tirar o chapéu para a coragem dessa mulher
- Vanessa Bell – pintora inglesa do século XX, irmã de outra mulher famosa, Virginia Woolf, que, por sinal, desenhou diversas capas das primeiras edições dos livros da irmã
- Alice Neel – pintora norte americana do século XX, autora de diversos auto-retratos onde ela aparece velhinha e nua. Amei essa mulher, que eu também não conhecia!
- Lee Krasner – pintora judia norte americana do século XX. Infelizmente ela é mais famosa por ter sido casada com Pollock do que pela sua própria obra. E nem assim eu a conhecia porque não sou fã desse pintor
- Louise Bourgeois – artista francesa do século XX que sobreviveu à primeira Guerra Mundial e no entre guerras se mudou para Nova Iorque. Eu também não conhecia, essa lista é uma vergonha para a minha pessoa
- Ruth Asawa – artista norte americana filha de imigrantes japoneses que passou a infância num campo de concentração nos EUA (coloque no Google campos de detenção para japoneses nos EUA durante a segunda guerra e você levará um susto). Eu também não a conhecia, mas sua história é tão linda que virei fã
- Ana Mendieta – artista de origem cubana do século XX cuja história pessoal é tão marcante nas lutas feministas que eu não sei explicar como eu não a conhecia
- Kara Walker – artista negra norte americana do final do século XX e que fez sucesso no século XXI. Impossível ser mais contemporânea do que ela nas discussões atuais sobre racismo nos EUA, amei o que vi do seu trabalho, mas eu também não a conhecia
- Susan O’Malley – artista norte americana do século XXI, com um estilo tão atual que se ainda estivesse viva (tristezas da vida) certamente estaria bombando na internet. Essa eu conhecia, porque tenho um livro dela, que ainda não li, mas isso será resolvido em breve
Autoras mulheres não faltam…
Imagino a dificuldade da autora para limitar essa lista para apenas 15 mulheres. É tanta artista maravilhosa que eu sei que é difícil escolher. E nesse sentido, Bridget fez questão de tirar das sombras justamente artistas pouco conhecidas e que também merecem a fama de Frida Kahlo e Camille Claudel (se você não conhece, coloque no Google pelamor!).
Para coroar o livro, preciso dizer que adorei o texto de Bridget Quinn, uma mistura deliciosa de jornalismo, literatura e conhecimento de artes plásticas. A leitura é fácil e gostosa, dá muito gosto de ler e aprender mais sobre mulheres fantásticas como essas. Espero que a autora faça sucesso o suficiente para fazer mais livros como esse.
Infelizmente o livro ainda não saiu em português, mas esperança é a última que morre!
Nota 9,5.