Aguentaremos até onde sequências e derivados de séries?

Como se não bastasse tanta coisa ruim no mundo real, ainda somos assolados com a notícia de que Dexter vai voltar. E nem estou falando daquele garotinho ruivo com uma irmã irritante e que sabe-se lá como mantinha um laboratório supermoderno e secreto em seu quarto. Antes fosse! Quem vai voltar é o psicopata com ares de justiceiro que outrora amamos entre tantas séries, e no fim passamos a nos perguntar se esse amor valeu a pena.

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Veja bem: Não foi só um final decepcionante, mas os últimos quatro anos da série foram de puro declínio. Então por que voltar agora? Se em oito anos de produção só conseguiram desgastar o apreço que o público tinha sem entregar um desfecho minimamente decente, quem nos garante que será diferente agora? Tudo bem que revivals, sequels, prequels e spin-offs estão na moda, mas nem por isso devem ser banalizados.

séries: Young Sheldon é um exemplo de mais um derivado
Séries: Young Sheldon é um exemplo de mais um derivado de seriado na TV

Se analisarmos a história da cultura pop veremos que não é de hoje que as obras derivadas existem. Basta ver quantos livros sobre a Terra Média e sua mitologia J. R. R. Tolkien escreveu. A própria trilogia O Senhor dos Anéis (geralmente por onde se ingressa na saga) é, na verdade, derivada de O Hobbit. Que de certa forma nasceu dos rascunhos que um dia viraram (o não tão amado) O Silmarillion. Depois surgiram outros, e nós amamos toda a saga. Isso porque Tolkien criou não só personagens, mas todo um universo para expandir e explorar da forma que bem entendesse. E se por acaso não gostamos de alguma parte, ela não estraga o apreço que temos pelo todo.

Algo parecido pode ser dito de sagas como Star Wars, Star Trek, Jurassic Park e Harry Potter. Mesmo com seus universos sendo expandidos por outros que não seus criadores, sempre temos a emoção de algo novo a descobrir. E, de novo, se odiamos uma parte, só odiamos uma parte. Os universos dos super-heróis também são constantemente expandidos e reinterpretados. Mas embora seja interessante saber sobre a adolescência de Bruce Wayne (Gotham) e a origem do Coringa, não sei se o passado do mordomo Alfred inspira tanta curiosidade assim. Porém, nada impediu a Warner de dar sinal verde para a produção da série Pennyworth.

E é aqui que voltamos às séries de TV, onde obras derivadas têm ficado cada vez mais comuns. E quando se tem algo pra contar são extremamente bem-vindas. Better Call Saul vem fazendo jus ao sucesso que foi Breaking Bad. Young Sheldon não só manteve os fãs de The Big Bang Theory como conquistou seu próprio publico. Angel nunca teve a mesma audiência de Buffy: the Vampire Slayer, mas conseguiu trilhar o próprio caminho. Em compensação, Once Upon a Time in Wonderland é algo que aqueles que assistiram Once Upon a Time gostariam de poder apagar da memória. (Embora o mesmo possa ser dito sobre a última temporada desta.)

Mas quando se trata de um revival, a coisa pode ser um pouco mais delicada. Não que seja um pecado mortal, e muito menos algo novo. Lembre-se de que Sir Arthur Conan Doyle continuou a saga de Sherlock Holmes alguns anos depois de ter matado o personagem. Em tempos mais recentes podemos citar The X-Files. A série teve nove temporadas de puro sucesso, embora o spin-off The Lone Gunmen tenha durado apenas uma temporada. Depois de alguns anos encerrada veio com um filme e mais tarde duas novas temporadas. E poderia voltar para mais, pois Mulder e Scully sempre parecem ter algo novo a descobrir. Outro exemplo, e este um tanto peculiar, seria Twin Peaks. A série foi encerrada prematuramente em sua 2ª temporada, prometendo voltar em vinte e cinco anos. Levou um ano a mais que o esperado, mas voltou.

24 Horas também teve um revival, que não foi espetacular mas também não foi horrível. Em contrapartida, a sempre amada Prison Break teve um revival de qualidade questionável. E voltará para mais episódios! O que me leva a perguntar se não era melhor ter deixado Michael Scofield morto. E isso me faz acreditar que com Dexter será ainda pior, já que sequer sentimos saudades da série. Mas como comentei com um amigo, o pior é que assistiremos só para saber o que xingar. E talvez seja isso mesmo que a Showtime quer, pois Dexter sempre foi sua série de maior sucesso e como diz o ditado: “Falem bem, falem mal, mas falem de mim.” Quando se vive num mundo regido por algoritmos, o importante é estar na mídia.

Talvez parte da culpa pela infinidade de revivals de séries seja nossa, que consumimos esse conteúdo extra mesmo que não aguentemos mais. Precisamos começar a avaliar melhor com o que vamos gastar nosso precioso tempo.

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