Ainda Estou Aqui deixou muito brasileiro com lágrimas nos olhos e orgulho no coração tupiniquim. Ao vencer o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o filme finalmente trouxe uma estatueta dourada para o país e consolidou o cinema brasileiro como uma sétima arte que merece respeito Brasil afora. E não é só.
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O filme dirigido por Walter Salles confirmou que o Brasil pode lidar melhor com as consequências da ditadura militar ao retratar todos os absurdos ocorridos como o sequestro, assassinato e ocultamento do corpo de Rubens Paiva retrado na telona. Vale lembrar que dos quatro Oscars da América do Sul, três falam do período autoritário do continente: Uma História Oficial e o Segredo dos Seus Olhos, ambos da Argentina, e o próprio Ainda Estou Aqui.
O filme brasileiro, porém, deixou algumas dúvidas nos espectadores sobre seu final. E é isso que queremos responder por aqui.
No final de Ainda Estou Aqui, Eunice (Fernanda Torres em grande atuação) coloca para a família assistir um filme caseiro com imagens de Rubens Paiva (vivido por Selton Mello, em atuação que injustamente não foi reconhecida) então já reconhecido como morto pelo Estado brasileiro depois de décadas de luta de Eunice. Nesse ponto, finalmente a personagem principal e seus filhos podem viver seu luto de forma oficial apesar de sem o corpo do patriarca, recebem um documento que oficializa seu óbito. Assim como quando Eunice e seus filhos se recusam a fazerem uma pose triste para uma foto jornalística, aqui eles preferem lembrar do pai com alegria e não pelo terror da ditadura. Nesse ponto, o filme retrata onde está a principal força dos Paiva: não deixar que a ditadura definisse o que seriam ou como lembrariam do pai.
Tudo isso se junta as imagens de Eunice perdendo a conta de um monte de dinheiro e do momento em que tirou uma foto precedendo que ela viria a ter o mal de alzheimer. Mesmo com o luto e, talvez, no momento mais dramático do filme: Eunice, já interpretada por Fernanda Montenegro, parece desligada do mundo até ouvir na TV uma atualização sobre a punição dos militares que causaram crimes na ditadura como o que sua familia sofreu. Seus olhos focam na TV e sua feição deixa claro que ela entende o que está sendo informado. No mesmo momento, um jovem Marcelo Rubens Paiva (Antonio Saboia) percebe o que acontece. Nesse momento, o nome do filme se explica: Eunice ainda está aqui. E sobreviveu. Apesar de toda dor infligida, ela sabe que venceu esta luta no final.