Cartaz de Johanne Sacreblu, sátira mexicana a Emilia Pérez, filme francês indicado a 13 Oscars

A resposta mexicana aos estereótipos do filme “Emilia Pérez”

Criada por uma mulher trans mexicana, "Johanne Sacreblu" é uma sátira mordaz da cultura francesa

Movida pela indignação ao retrato estereotipado que o filme Emilia Pérez fez da sociedade mexicana, uma tiktoker local, Camila Aurora, criou um média-metragem intitulado Johanne Sacreblu, que satiriza a cultura francesa recorrendo a toda sorte de clichês sobre o país da Ladybug, falando de croissants, ratos como aquele da animação Ratatouille e gente que não gosta de tomar banho.

Comentários de mexicanos, no YouTube, aproveitando o vídeo de "Johanne Sacreblu" para ironizar a cultura francesa

Não é difícil entender por que os mexicanos se irritaram tanto com um filme que foi escrito e roteirizado por um cineasta francês que resolveu fazer um longa que se passa no México, mas foi todo gravado nos arredores de Paris, é protagonizado por atrizes espanholas e americanas e aborda a questão da violência das drogas e das milhares de pessoas desaparecidas por causa dos traficantes de um modo superficial.

Jorge Volpi, escritor mexicano, disse a respeito de Emilia Pérez: “Supor que, ao realizar sua transição, o homem selvagem e cruel que ordenou centenas de assassinatos de repente se transforme em uma mulher empática e comprometida com os mais fracos é um malabarismo narrativo imperdoável“.

Camila Aurora Gonzalez Lopez, mulher trans mexicana com mais de 232 mil seguidores no TikTok, se incomodou tanto com o modo superficial como seu país foi retratado nas telas como com a representação equivocada de uma trans que só se redime de uma vida de crimes após uma cirurgia de redesignação sexual. A partir dessas premissas, Camila teve a ideia de criar uma sátira musical satirizando os estereótipos mais rasteiros associados à França.

(Em tempo: sobre a problemática da representação de mulheres trans, recomendo a leitura deste artigo escrito por Drew Burnett Gregory, com o título Emilia Pérez Is the Most Unique Cis Nonsense You’ll Ever See”. Um trecho: “Na superfície, Emilia Pérez é diferente de tudo que você já viu. Mas, no fundo, contém uma imensa falta de curiosidade. O que parece ser um banquete são, na verdade, sobras de três dias em decomposição.“)

Johanne Sacreblu, o musical “francês” made in México

Movida por uma ideia na cabeça, uma câmera na mão e a força da indignação latina, Camila lançou um crowdfunding para produzir sua resposta a Emilia Pérez: a história de Johanne Sacreblu, uma mulher trans herdeira do maior produtor de baguetes da França, que tenta destruir o racismo sistemático de seu país com sua arma mais forte: o amor. Mas suas convicções serão abaladas ao se apaixonar por Agtugo Ratatouille, herdeiro da maior produtora de croissants.

Em poucos dias, Camila conseguiu arrecadar 43.250 pesos mexicanos (o equivalente a cerca de R$ 13.000) através da plataforma de crowdfunding GoFundMe, sendo que a meta total é de MXN$ 60.000 (pouco mais de 17 mil reais). Mesmo sem ainda ter obtido a meta de arrecadação, em poucos dias Camila reuniu amigos e colaboradores, produziu, filmou, editou Johanne Sacreblue e já a disponibilizou no YouTube no dia 25 de janeiro. O sucesso é inegável: hoje, dia 27, o vídeo já bateu a casa dos 750 mil views.

Toda a polêmica manifestada nas redes sociais contra Emilia Pérez será capaz de prejudicar suas chances no Oscar 2025 e favorecer Ainda Estou Aqui? Vamos ver o que a cerimônia do Oscar, que será realizada no domingo, dia 2 de março, mostrará…

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