O Caso Richthofen foi um dos que mais comoveu a sociedade e a mídia brasileiras nas últimas duas décadas. Em parte por isso, os filmes A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou meus Pais foram inicialmente bastante rejeitados pelo público quando divulgados em 2019. Mas ao contrário do que muitos pensavam, nunca se tratou de uma tentativa de romantizar ou glamorizar o crime. Apenas apresentar as versões dadas pelos réus.
Os filmes contam com roteiros da criminóloga Ilana Casoy e do escritor e roteirista Raphael Montes. A direção é de Mauricio Eça, que teve a ideia de dramatizar a história ao ler o livro O Quinto Mandamento que Casoy escreveu sobre o caso. E a ideia inicial era de que as duas versões (a de Suzane e a de Daniel) fossem contadas num único roteiro. Mas partiu de Eça e dos produtores Gabriel Gurman e Marcelo Braga a proposta de dividi-lo em dois filmes. Acreditando que isso traria uma experiência mais completa ao público.
Não se trata de escolher lados, nem de tentar justificar o crime. A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou meus Pais apenas mostram como as versões dadas por Suzane von Richthofen (Carla Dias) e Daniel Cravinhos (Leonardo Bittencourt) são distintas. E não apenas do planejamento da noite de 31 de outubro de 2002, quando junto de Cristian Cravinhos (Allan Souza Lima) mataram o casal Manfred (Leonardo Medeiros) e Marisia (Vera Zimmermann). Mas de todo o namoro deles.
O formato dos filmes me lembrou muito a série The Affair, e lendo entrevistas descobri que foi referência para Casoy na hora de construir o roteiro. Enquanto Montes se inspirou no filme francês Bem Me Quer, Mal Me Quer. E ter essas reconstruções totalmente baseadas nos autos do processo e depoimentos dos dois principais envolvidos é importante para tentar entender a psicologia humana.
Porém, esse é um curioso caso em que excelência criativa e ótimas atuações não bastam. Os filmes se completam e cumprem muito bem sua proposta. Mas são bastante maçantes, daqueles que fazem o espectador verificar a cada instante quanto tempo resta para o fim.
Talvez uma minissérie, em que cada episódio mostrasse um pouco das versões da história funcionasse melhor. Mas como a ideia era fazer algo para o cinema, essa hipótese provavelmente nem foi cogitada. E no fim das contas, o lançamento em streaming talvez tenha evitado um fracasso de bilheteria. Pois uma pessoa pode até maratonar os dois filmes no conforto de sua casa, talvez até parando e voltando para comparar cenas. Mas não sei se muitos teriam paciência para enfrentar duas sessões de quase 1h30 cada e ainda pagar por isso.
No entanto, A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou meus Pais não são uma perda total. Sem uma ordem certa para serem assistidos, os filmes são uma boa pedida para fãs de true crime. Ambos estão disponíveis na Amazon Prime Video desde 24 de setembro.
Nota: 6,5
Confira o trailer: