Mal saímos da ressaca de nosso primeiro Oscar e já temos outro filmaço para prestigiar. Trata-se de Vitória, que chegou aos cinemas de todo o país no dia 13 de março. O segundo filme original Globoplay tem tudo para seguir os passos de seu antecessor Ainda Estou Aqui.
++ Filme ultrapassa Marvel e lidera bilheterias no Brasil
Inspirado em uma história real, o filme mostra como Dona Nina (Fernanda Montenegro) contribuiu para investigar uma quadrilha de tráfico de drogas que atuava em frente à sua casa. Munida de uma filmadora, ela teve a coragem de registrar tudo de sua janela, conseguindo identificar até policiais corruptos.
O roteiro de Paula Fiúza tem como base o livro Dona Vitória da Paz, do jornalista Fábio Gusmão, que publicou a história real no jornal Extra em 2005. O livro, lançado em 2006, não conta com imagens da heroína real, já que ela estava no Programa de Proteção às Testemunhas e sua identidade precisava ser mantida em sigilo. Seu rosto e seu verdadeiro nome, Joana Zeferino da Paz, foram revelados apenas após sua morte em fevereiro de 2023, dois meses depois do fim das filmagens. O livro foi até reeditado em 2024 com imagens e um novo título: Dona Vitória Joana da Paz.

O fato de sua real aparência ser agora conhecida fez com que o filme passasse por algumas polêmicas. Afinal, Dona Joana era uma mulher negra e Fernanda Montenegro é branca, o que levantou questões sobre embranquecimento e falta de representatividade. Pessoalmente, não só considero as discussões justas como também defendo a bandeira da representatividade. Porém, é importante lembrar que, durante as gravações, ainda era preciso manter a identidade de Dona Joana em segredo para proteger sua vida. E, para conseguir isso, foram necessárias algumas alterações. Até o jornalista Fábio Gusmão virou Flávio Godoy, interpretado por Alan Rocha.
Aliás, soube-se que era desejo de Dona Joana ser interpretada por Fernanda Montenegro. E se era desejo dela, está mais que validado, né?
Voltando ao filme, é revigorante ver Dona Fernanda em mais uma atuação visceral. Essa gigante, que sempre entrega tudo de si, mostrou em gestos e olhares a coragem — aquela que Dona Joana tinha de sobra — para fazer o que é preciso. Coragem essa que impulsionou a atriz a aceitar o papel: “Sempre aceitei, na minha vida de atriz, personagens não acomodados — assim como dona Joana”, contou em entrevista à CNN.
Mas, além da coragem, há a solidão, aquela à qual as pessoas de idade são relegadas. Em muitos momentos, Dona Nina (como Dona Joana deve ter sido) é diminuída e menosprezada por seus interlocutores por conta de sua idade e humildade. Basta lembrar que ela precisou recorrer a uma filmadora para ser levada a sério, já que suas palavras não foram suficientes. Vitória acaba sendo também uma crítica ao etarismo em nossa sociedade.
“Na velhice, a solidão é inarredável. A vida vai levando você à solidão. Com a idade, você vai ouvindo menos, vendo menos, se levanta com menos agilidade e as juntas começam a secar. Isso tudo é uma solidão também. Mas o filme não trata Vitória como uma sofrida, demagógica e melodramática. Pelo contrário, é uma mulher afetuosa e destemida.” — Fernanda Montenegro

Todavia, existem outras atuações dignas de nota. O próprio Alan Rocha se mostrou um companheiro de cena perfeito, com um entrosamento sem igual com Dona Fernanda. Linn da Quebrada dá um show como Bibiana, sendo a vizinha que todo mundo quer ter. E Laila Garin, como Inspetora Laura Torres, é provavelmente a representação que todas as mulheres da força policial querem ver nas telas. Sem esquecer de Thawan Lucas como Marcinho, que, tão jovem, já mostra do que é capaz.
O filme era um projeto do diretor Breno Silveira, que faleceu em maio de 2022, logo no início das filmagens. Ele foi substituído por Andrucha Waddington, seu sócio na Conspiração Filmes e genro de Fernanda Montenegro, que conduziu o projeto com maestria.
Vitória foi líder de bilheteria em seu fim de semana de estreia, um marco e tanto. Há quem especule que o filme pode ser indicado ao Oscar, talvez desta vez trazendo a estatueta para Fernanda Montenegro. Sabemos que produções lançadas logo após a temporada de premiações têm menos chances de se manter em alta até a próxima, mas por que não? Já imaginamos ser impossível, e conseguimos.
Nota: 10
Confira o trailer: