Nas recentes produções de cinema e televisão percebe-se o enorme sucesso das histórias de super-heróis. Essa adesão do público não parece ser por acaso. Seja em séries de televisão ou em filmes, o espectador parece procurar nessas criaturas tão especiais algum tipo de inspiração para suas próprias vidas.
Os heróis sempre foram a base de todas as histórias, dos contos de fadas às séries disponíveis na internet. Joseph Campbell, a partir da ideia de arquétipos desenvolvida por Carl Gustav Jung, percebeu uma série de elementos comuns em narrativas contadas por diferentes autores em distintas épocas e lugares. Essa jornada dos heróis estava marcada por mudanças e aprendizados, perigos e aventuras, amizades e rupturas. Para o herói, além da ressurreição após uma morte simbólica ou real, estava em jogo também o crescimento pessoal
Os filmes de super-heróis não fogem dessa jornada clássica. O que vemos são personagens que estão vivendo algum tipo de crise e buscam encontrar seu caminho, seja um Tony Stark preso em uma caverna ou Bruce Wayne tentando superar o brutal assassinato de seus pais. Muitos desses personagens parecem colocar em dúvida se são de fato os super-heróis de quem tanto se espera, como Thor que deixa de se considerar digno de empunhar seu tradicional martelo ou Diana Prince que esconde suas habilidades de guerreira depois que percebe que a maldade humana está incrustada em sua própria natureza. Embora sejam os grandes acontecimentos que os fazem agir, como as batalhas em Nova York e Sokovia, são suas histórias particulares que na maior parte dos casos parecem atrair o espectador.
Existem ainda aqueles super-heróis que vivem seus próprios dilemas, como os da televisão. Jéssica Jones, mesmo com sua grande força física, é atormentada pela violência psicológica sofrida e pela morte de sua família, impactando profundamente sua vida. Oliver Queen começou sua jornada como Arqueiro buscando uma forma de redimir os erros de seu pai, tendo de lidar com o lado sombrio que acabou tomando conta de sua personalidade. Luke Cage queria apenas pôr fim a uma quadrilha que vinha afetando o Harlem, não imaginando que poderia vir a compor um grupo de super-heróis.
O espectador acaba por buscar na jornada desses super-heróis algo para confortar suas dificuldades cotidianas, seja se inspirando em seus embates do dia a dia, seja os distraindo desses problemas. Parece que muito do que atrai nesses super-heróis é justamente o fato de que, apesar de serem de outros planetas ou terem incríveis poderes, são criaturas que em seu cotidiano, quando não estão salvando o mundo, têm problemas que muito se assemelham aos das pessoas comuns que os admiram.
Este artigo é uma versão revista e ampliada de texto originalmente publicado no jornal Linha Popular, nº 490, em 15 de dezembro de 2018.