‘Trevor: O Musical’ é tocante e necessário

“Ser diferente não é errado.”

Para celebrar o Mês do Orgulho LGBTQ, o Disney+ lançou nessa sexta-feira (24) a versão filmada de Trevor: O Musical (Trevor: The Musical). O espetáculo Off-Broadway é baseado no curta Trevor que venceu o Oscar de 1995, e que alguns anos depois inspirou a criação da organização mundial e sem fins lucrativos de prevenção ao suicídio e saúde mental para jovens LGBTQ The Trevor Project.

Trevor (Holden Hagelberger) é um garoto de 13 anos, fã da cantora Diana Ross (Yasmeen Sulieman), e que mal pode esperar para conquistar o estrelato. Mas a adolescência pode ser um período bastante destrutivo, ainda mais para um garoto gay descobrindo sua sexualidade dentro de uma família e comunidade conservadoras.

Por não ter a experiência, e nem acervo, que meus colegas aqui do POPOCA têm com musicais, talvez eu não seja a pessoa mais adequada para escrever este review. De modo que não focarei tanto na parte técnica, já que simplesmente achei tudo esplêndido. Prefiro focar no contexto e nos sentimentos que me foram proporcionados.

Mesmo com a trama se passando em 1981, temos algo bastante atual: o suicídio entre jovens LGBTQ. É verdade que hoje em dia os jovens têm uma abertura maior para se descobrir, se aceitar e até se assumir perante família e amigos. É para apoiar esses jovens que temos produções infantojuvenis com personagens LGBTQ, e até séries como A Million Little Things e This Is Us que possuem personagens adolescentes se descobrindo. Só que essa abertura pode desaparecer completamente dependendo do contexto familiar e social em que o jovem vive. Crescer com os estigmas de “esquisito” e “errado” pode ser devastador.

A verdade é que Trevor não é necessário apenas para jovens LGBTQ e seus familiares, mas para todos. Perpetuar o ódio quando se cresce em uma família conservadora é caminho comum, e quebrar esse ciclo requer muitos exercícios de empatia e autorreflexão. Digo isso com a vergonha de quem assume já ter estado nessa situação, e que acredita que obras como Trevor podem fazer a diferença.

O musical também ajuda a quebrar estigmas gerais sobre saúde mental. Com muitas canções alegres e um tom bem mais leve que o do curta original, Trevor subverte o paradigma de que pessoas que tentam suicídio apresentam um constante comportamento depressivo. Nosso protagonista é um garoto que sonha alto, que deseja um futuro magnífico. E longe de ser uma romantização de uma tentativa de suicídio, mostra que mesmo aqueles que acreditam na beleza da vida podem perder a esperança de viver quando se veem sem apoio.

A adição de Trevor: O Musical ao catálogo do Disney+ pode parecer contraditória quando lembramos que o CEO da Disney apoiou e financiou a chamada lei Don’t Say Gay da Flórida. A verdade é que diretoria e equipes criativas do estúdio parecem divergir sobre o tema. Não só a plataforma de streaming dedica uma coleção inteira a títulos relacionados a temática LGBTQ como tem sido comum ver personagens LGBTQ em animações. Inclusive, Lightyear (que chegou aos cinemas dia 27) é a primeira animação a mostrar um beijo gay.

Trevor: O Musical tem livro e letra de Dan Collins e música de Julianne Wick Davis, direção de Marc Bruni e coreografia de Josh Prince. A recomendação é assistir e divulgar. E pra quem não viu ou quer rever o curta original, ele está disponível no YouTube.

Nota: 10

Confira o trailer:

 

 

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