O juiz ministro Sérgio Moro anda tendo muito trabalho para aprovar seu projeto de leis anti-crimes e prender mais gente sem provas ou julgamento melhorar a segurança do Brasil. Mas o juiz está tendo mais problemas ainda em explicar isso para a população pelo twitter, como mostra o tweet abaixo:
Projeto de lei anticrime. Medidas simples e eficazes contra o crime. Já assistiu aqueles filmes norte-americanos com agentes policiais disfarçados infiltrando-se em gangues de criminosos, traficantes ou corruptos? Como Donnie Brasco ou The Infiltrator e que retratam casos reais.
— Sergio Moro (@SF_Moro) April 7, 2019
Moro talvez não lembre, mas enquanto um filme é uma crítica ao processo de policiais infiltrados no outro todos os policiais morrem. Enfim, talvez falte mesmo cultura cinematográfica ao juiz para refletir sobre os efeitos de usar policiais infiltrados e por isso que criamos esta lista.
Os Infiltrados
Mais ou menos como se, por exemplo, milicianos elegessem um presidente ou, sei lá, fossem muito próximos de um ou garantissem empregos públicos. Também vale lembrar que mesmo desarticulando a quadrilha, o processo não acaba com o crime e gera muita mortes de gente honesta no caminho.
Os Infiltrados garantiu a Scorcese o Oscar de melhor diretor e de melhor filme.
Vocês sabem que nós adoramos essa produção e era nossa favorita ao Oscar. Moro ainda se beneficiaria de uma produção recente e que ainda pode estar sendo exibida em alguma sala de cinema. Infiltrado na Klan conta como um policial negro, discriminado dentro da própria polícia, ajuda a corporação a perseguir e impedir atentados da Ku Klux Klan, organização racista dos Estados Unidos.
ATENÇÃO: SPOILERS
Entre os fatos que o juiz pode estar atento e aprender alguma coisa é que mesmo jogando dentro das regras e sendo bem sucedido, ninguém consegue destruir uma organização criminosa. No fim, o sistema beneficia os homens brancos e dá uma vitória de Pirro aos policiais.
O final do filme de Spike Lee também exibe cenas documentais que poderiam fazer Moro refletir. Houvesse um correspondente nacional, possivelmente veríamos cenas trágicas dos eventos repetidos de violência policial na favela.
Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro
Não é um filme sobre agentes infiltrados, mas conta bastante a história do crime e da política do Brasil além de ser uma produção nacional. Já que o presidente Jair Bolsonaro não dá bola para produtos culturais Made in Brazil, podemos ter um ministro que dá essa moral.
Em Tropa de Elite 2, o Capitão Nascimento, herói incorruptível e irrefreável, quase cai nas garras do sistema mas sobrevive “caindo para cima” e recebe a chance de aumentar a segurança nacional. Infelizmente, seus esforços o fazem colocar a família em risco além de ver a sua reputação servir apenas para dar legitimidade a governantes corruptos que usam o discurso de segurança para manter privilégios como qualquer esquema corrupto.
ATENÇÃO: SPOILERS
No fim, o policial, em interpretação magistral de Wagner Moura, toma a única decisão viável. Denunciar todo sistema corrupto, pedir o fim da Polícia Militar e assumir sua responsabilidade no processo.
Los Angeles: Cidade Proibida
No original LA: Confidential, conta a história de três detetives que se envolvem diretamente com uma conspiração paramilitar na Los Angeles dos anos 50. Dirigido por Curtis Hanson, a produção aborda como um sistema se retroalimenta com o discurso da paranoia e segurança para proteger e usar agentes do Estado que cometem crimes no exercício de sua função.
Russel Crowe vive um policial que após ser preso por cometer esse erro passa a ser usado por milícias para obter informações. No melhor estilo responde-ou-eu-te-bato. Wendell “Bud” White não é corrupto e nem sabe bem o que está acontecendo, mas acredita na corporação acima de tudo mesmo quando é usado por ela. No fim, é o incorruptível detetive Edmundo Jennings (em ótimo trabalho de Guy Pearce) que salva a todos oferecendo uma saída digna para o aparato policial que domina a cidade.
Cães de Aluguel
Já que Moro parece ter optado por filmes em que no fim tudo dá errado é bom começar logo pelo melhor deles. A produção de Quentin Tarantino envelheceu mal, mas ainda é um bom exemplo sobre masculinidade tóxica e os efeitos desastrosos de um aparato policial na tentativa de impedir crimes.
Atenção: spoilers.
Além do agente infiltrado Freddy (vivido por Tim Roth) sofrer desde o primeiro minuto, inclusive agindo errado com civis temos um jovem policial (Lawrence Bender) que sofre na pele os efeitos da ação. No final para lá de dramático, todos os criminosos estão mortos, mas segurem os aplausos. Os policiais também. E alguma joalheria recuperou suas jóias.
Será que valeu a pena?
Minority Report
Misturando ficção científica e um personagem perturbado com a incessante missão de impedir crimes antes que ocorram, Minority Report encarna bem o sonho de Moro. A ideia é que paranormais, os precogs, consigam prever crimes antes que ocorram. Suas previsões servem como provas para prender os criminosos e alcançam um estado absolutamente seguro.
Uma das coisas que mais gosto da produção de Steven Spielberg é que indica que há insatisfação e dúvida na sociedade. John Anderton (um dos melhores personagens de Tom Cruise) responde a estas dúvidas com defesas ufanistas do próprio sistema, mas acaba vítima dele.
No fim, Anderton enfrenta sua própria jornada de redenção em busca do filho que perdeu e nota que a corporação que ajudou a construir é nociva. Em um Ministério tão importante, Moro consegue até o telefone de Spielberg para bater um papo e trocar impressões sobre ficção distópica nos cinemas e sua atuação nos tribunais brasileiros. O pior que pode acontecer em uma conversa desses é o diretor fazer um filme sobre poder judiciário no Brasil. Não seria uma má ideia…