Desde sua estreia, em 9 de abril no Amazon Prime Video, a série Them (no Brasil, Eles) vem gerando polêmica. Criada por Little Marvin e coproduzida por Lena Waithe, a série tem a proposta de ser uma antologia de terror que a cada temporada trará uma história sobre racismo. Mas muitos reclamam que a produção pesou a mão na hora de retratar o sofrimento das pessoas negras, tornando algo difícil demais de assistir.
O pano de fundo da 1ª temporada é a Grande Migração, como é conhecido o período em que milhões de afro-americanos se mudaram das zonas rurais para as grandes cidades. Além das leis segregacionistas de Jim Crow, vigentes na década de 1950. Nossos protagonistas são a família Emory, que logo após viverem uma tragédia se mudam da Carolina do Norte para a Califórnia. Sem a menor ideia dos horrores que os aguardam.
Como se já não bastassem os olhares e posturas de indignação daqueles que os rodeiam por serem as únicas pessoas negras no bairro, no trabalho e nas escolas, os personagens ainda encontram entidades sobrenaturais na nova casa. Pessoalmente, e parte de mim mantém essa visão, acho que Them ganharia muito mais caso se ativesse ao drama e às questões históricas. Creio que o racismo velado e as leis injustas de um governo segregacionista que incentiva isso já é horrível o suficiente. Porém, assistindo as entrevistas de Little Marvin e de alguns atores que estão disponíveis como bônus da série no serviço de streaming pude entender as escolhas feitas.
A ideia é mostrar que o ódio causou dores nessas pessoas que as deixaram suscetíveis à forças sobrenaturais. E assim vemos o casal Henry (Ashley Thomas) e Luck (Deborah Ayorinde), bem como as filhas Ruby (Shahadi Wright Joseph) e Grace (Melody Hurd) sendo aterrorizados dentro e fora de casa. Não obstante, essa entidade serve como alegoria para os danos e traumas que o racismo causa nas pessoas negras. E também sobre como a religião muitas vezes serve de aval para o racismo estrutural. Embora em muitas ocasiões a pressão psicológica causada por uma vizinhança hostil seja mais aterrorizante que o sobrenatural.
E é juntamente aí que reside boa parte das queixas. Em uma pesquisa rápida no Google é possível encontrar diversas postagens dizendo que a direção exagerou nas cenas que mostram os personagens negros sendo xingados e/ou violentados. Uma cena do quinto episódio em particular é a que mais tem causado indignação, levando pessoas a catalogarem Them como “pornô de sofrimento”. Porém, uma coisa que me chamou atenção é que muitos disseram que a cena mais parece o resultado do sadismo de um diretor branco do que crítica social. O que é interessante pois apesar da maioria dos diretores da série serem homens brancos, o quinto episódio especificamente foi dirigido por Janicza Bravo, uma mulher negra.
Admito que Them não é uma série fácil de assistir. Existem diversas cenas que podem servir de gatilho, e não só de racismo. Pessoas que sofreram bullying, foram vítimas de violência sexual ou abuso infantil também deveriam ficar longe. No entanto, a série preenche importantes lacunas históricas. Sempre ouvimos falar sobre como os Estados Unidos foram cruciais na vitória dos países aliados na Segunda Guerra, mas raramente se fala em como o país tratava seus próprios soldados negros. Sempre ouvimos falar no “sonho americano”, mas dificilmente alguém tem coragem de dizer que esse sonho não é para todos. Além de outras injustiças previstas em lei que eram cometidas contra negros e mulheres, sobre as quais dá para escrever um verdadeiro tratado. E por mais doloroso que seja, é importante manter isso na memória, para que as futuras gerações não cometam os erros do passado.
Nota: 7,5
Confira o trailer:
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