‘Sob Pressão’ teve boa temporada, mas podia ter sido melhor

Série está deixando seus deveres e obrigações ficarem visíveis demais.

Dessa vez exibida primeiramente no Globoplay, a 5ª temporada de Sob Pressão começou prometendo ser a melhor de todas. Com dois novos episódios disponibilizados semanalmente entre 2 de junho e 7 de julho, tivemos ótimos momentos. Daqueles que só essa grande série pode proporcionar. Mas houve vacilos também.

Atenção: Contém spoilers da temporada!

No quesito “assuntos imprescindíveis”, Sob Pressão contínua nota 10. A tarefa de retratar com verossimilhança, sem perder em dramaticidade, a realidade da saúde brasileira sempre foi o ponto mais forte da trama. Seja mostrando o desespero de uma esposa cujo marido pode morrer na fila de cirurgia, o caos que vira um hospital ao atender vítimas de um incêndio em uma fábrica ou a angústia da equipe médica ao ver um paciente que só está ali por ser vítima de racismo.

Correndo o risco de ser repetitiva, uma vez que já disse isso em outros posts, mas o marco da série é mostrar como o Brasil é um país socialmente doente. Com tantas circunstâncias sociais que agravam ou mesmo geram doenças. Em um maravilhoso plot com o ator Douglas Silva tivemos uma dura crítica ao que as fake news sobre vacinação já representam. Teve espaço para criticar a irresponsabilidade no trânsito, a falta de ética por parte de alguns profissionais, o trabalho análogo a escravidão, desvio de material e, claro, descaso político. Só senti falta de tratarem de pobreza menstrual, um assunto que vem gerando muitas discussões e projetos de leis vetados. Talvez no futuro.

Também não faltaram aquelas participações mais que especiais. Como Lázaro Ramos, Tony Ramos, Irene Ravache e Fábio Assunção. Participações que abrilhantam ainda mais a série. É triste que às vezes esqueçamos como possuímos artistas incríveis.

Porém, Sob Pressão falhou com seus arcos centrais. Infelizmente. O início foi bastante promissor para o elenco principal, levando a crer que essa seria a temporada deles. Claro, mais uma vez o foco foi praticamente todo para Evandro (Júlio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano). Ele reencontrando o pai que não via há vinte anos, agora uma sombra do que era devido ao Alzheimer. Mesmo assim, Heleno (Marco Nanini) revelou uma parte importante de sua vida. Já ela se viu tendo que trocar de lado e ocupar o papel de paciente ao descobrir um câncer de mama.

A despeito de tudo, Estiano e Nanini apresentaram atuações dignas de indicação ao Emmy. Todos são artistas fenomenais, mas sinto que essa temporada foi feita para esses dois brilharem mais do que tudo. Para além da importância de mostrar como essas duas doenças tão distintas afetam as vidas daqueles que acometem (e o papel do apoio de familiares e amigos para eles), foi notável a entrega total e incondicional de ambos para transmitir veracidade. Impossível não se emocionar.

Só que lá pela segunda metade da temporada a coisa começou a desandar. Já mencionei ano passado que o vai e vem de Evandro e Carolina estava ficando pior que Ross e Rachel em Friends, mas esse ano parecia que os roteiristas tinham decidido tomar caminhos diferentes. Claro que nenhum relacionamento é imune a crises, onde há pessoas haverá problemas. E esses problemas podem tanto fortalecer quanto destruir uma relação, seja do tipo que for. Mas sinto que uma Carolina fragilizada em dúvida sobre seus sentimentos e beijando seu ex-namorado e atual médico Daniel (Emílio Dantas) foi só para agregar ares de novela. Não levem a mal, gosto de novela. Só que tem coisas que já estão passadas demais.

Como essa 5ª temporada poderia ser a última de Sob Pressão, algumas coisas parecem ter sido feitas simplesmente pela possibilidade de realmente ser. Digo, em final seasons é comum ter participação de, pelo menos, um antigo personagem, uma partida e uma morte trágica. A participação foi de Stepan Nercessian como Dr. Samuel, em flashbacks com um jovem Evandro novamente interpretado por Ravel Andrade, irmão de Júlio. A partida foi de Décio (Bruno Garcia), que dessa vez escolheu sua vida pessoal e foi para Londres com o namorado-agora-marido. Passando assim a direção do hospital para Vera (Drica Moraes), e deixando em aberto a possibilidade de voltar caso a série continue. Esses plots foram bem-arranjados, mas tenho minhas dúvidas quanto à morte.

Confesso que chorei com a morte de Charles (Pablo Sanábio), um personagem tão querido da equipe e do público. As circunstâncias de sua morte foram trágicas e verossímeis, como as de qualquer pessoa jovem e saudável que ninguém espera que vá morrer. Por que no fim das contas é isso, algo que pode acontecer com qualquer um independente da situação. E a angústia da cirurgia para tentar salvá-lo seguida do desespero e vazio de perdê-lo se tornou uma das sequências mais marcantes da série. No entanto, mesmo que na vida real mortes trágicas aconteçam sem nenhum motivo, a de Charles parece ter ocorrido simplesmente porque uma morte deveria acontecer. Além de deixar Carolina com sensação de culpa.

Essa tragédia também levou Vera a beber e desenvolver alcoolismo. Embora seja um tema muito necessário e a atuação de Drica Moraes tenha sido impecável, o plot ficou com cara de enredo encomendado. Acho louvável o papel social da série e sempre desejei mais destaque para os personagens secundários, mas nenhuma dessas coisas deve parecer forçada para o espectador. Tanto é que em poucos episódios Vera decidiu procurar o AA (Alcoólicos Anônimos), algo que sabemos não ser tão simples. Bem como aquela possibilidade de romance com Mauro (David Junior), que estava engavetada desde a temporada passada e de repente puf! Aconteceu nos dois últimos episódios. Sinceramente, esperava mais.

Ainda não há indícios se a série continuará ou termina por aqui. O anúncio deve sair depois que a 5ª temporada for exibida na TV aberta, o que não tem previsão de acontecer. Apesar dos dois primeiros episódios da temporada já terem sido exibidos em uma sessão especial da Tela Quente em 6 de junho. O fato é que Sob Pressão possui uma das maiores audiências da Globo, o que a deixa com grandes chances de renovação. Só esperamos que seja feito o que for melhor para a série.

Sob Pressão é uma criação de Luiz Noronha, Cláudio Torres, Renato Fagundes e Jorge Furtado, com direção de criação de Andrucha Waddington. Livremente inspirada no livro Sob Pressão: A Rotina de Guerra de Um Médico Brasileiro, de Marcio Maranhão. Todas as 5 temporadas e o especial Plantão Covid estão disponíveis no Globoplay.

Nota: 8

Confira o trailer:

 

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