Estávamos longe de Moordale e suas confusões há exatamente um ano e oito meses. O hiatus certamente foi prolongado por conta da pandemia de Covid-19, mas os 8 episódios da 3ª temporada de Sex Education finalmente chegaram à Netflix em 17 de setembro. E com eles as respostas para dúvidas que ficaram, bem como novas tretas.
Alerta de spoiler: Contém revelações do enredo da 3ª temporada de Sex Education.
Sabíamos pelos trailers que a escola teria uma nova diretora: Hope Haddon (Jemima Kirke), que disse querer ser a nova amiga dos estudantes. As falas e postura liberal não demoraram a se mostrarem falsas. Sua missão era acabar com a fama de “escola do sexo” atribuída à Moordale com os acontecimentos da temporada anterior. E tentou fazer isso implementando um método educacional altamente retrógrado, não só no que diz respeito à educação sexual. Chegando a adotar punições (que incluíam humilhação) a quem demostrasse comportamento considerado “inadequado”, e não permitindo nenhum tipo de expressão individual. Paulo Freire e Maria Montessori teriam um troço.
Porém, nossos amados estudantes não deixariam por menos. Foi interessante ver com o decorrer da trama como cada um lidou com as novas normas e chegou ao momento do “chega”. Descrevê-los individualmente deixaria o texto muito longo para um balanço de temporada, mas creio que basta dizer que Sex Education arrasou mais uma vez em mostrar que repressão não está com nada. Porque no fundo a série é sobre isso.
Agora que estão no último ano escolar, nossos personagens da Geração Z passam a demostrar certa preocupação com o futuro. Tanto pessoal quanto profissional. Isso mostra maturidade, mas em nenhum momento os personagens (ou a série como um todo) perderam a diversão e a irreverência. Pois maturidade não significa ser sério em tempo integral, muito menos não ter dúvidas ou nunca falhar. Os personagens adultos representam bem isso, já que vivem confusos e dando mancadas. Ninguém sabe o que é certo o tempo todo. Porém, crescer sem poder explorar seus sentimentos em sua totalidade pode deixar danos pro resto da vida. Será que realmente queremos continuar infringindo esses danos às futuras gerações?
Bem, Sex Education sempre foi perita em inclusão e quebrar tabus. E esperamos que nunca mude isso. A 3ª temporada permitiu que o personagem Isaac (George Robinson) crescesse na tela e no relacionamento com Maeve (Emma Mackey). Como todo jovem que toma uma decisão precipitada, ele se arrependeu e pediu perdão. E antes que ela se entendesse com Otis (Asa Butterfield), eles até ficaram. Foi uma cena bonita e sensível, importante para abordar a sexualidade das pessoas com deficiência. Já que muitos preferem nem pensar no assunto. Embora boa parte da abordagem do personagem tenha soado utópica, foi bom ver isso na tela.
Também tivemos a inserção de dois personagens queer: Cal (Dua Saleh) e Layla (Robyn Holdaway). Cal teve uma participação muito mais ativa na trama, em parte pela amizade com Jackson (Kedar Williams-Stirling) e em parte por querer enfrentar de frente o sistema imposto pela nova diretora. Mas foi bom apresentar dois personagens não binários com personalidades diferentes e que se encontram em momentos diferentes de suas autodescobertas. O que é ótimo para quebrar o estigma de que todas as pessoas queer são iguais.
O que vem mudando aos poucos é que ninguém mais é apresentado como maligno ou insensível. Já havíamos passado isso com Adam (Connor Swindells), que de odiado passou a ser amado. Agora foi a vez de seu pai Michael (Alistair Petrie) perceber que suas ações eram reflexo da criação com um pai violento, e se arrepender por reproduzir o bullying com o filho. Com Ruby (Mimi Keene) vimos que aquela frivolidade escondia um medo de se mostrar vulnerável. E até Hope mostrou que sua dureza vinha do medo de fracassar.
Enfim, tivemos viagens à França e à Nigéria. E até uma competição de agility. Mas agora que Moordale será vendida e Maeve foi para o intercâmbio o futuro é incerto. Não só da trama, mas da série. Já houve declarações de que Sex Education talvez não tenha 4ª temporada, e é verdade que a Netflix vem cancelando séries de sucesso sem muitas explicações. Mas o final da 3ª temporada está longe de ser um desfecho aceitável para uma trama, apesar de muito bom. Então vamos torcer para que pelo menos seja renovada para uma última temporada.
Nota: 9
Confira o trailer da temporada: