A primeira temporada de Buffy é bastante dedicada a apresentar a protagonista e seu espaço de atuação. O centro da narrativa passa por dois aspectos principais. O primeiro foi a construção das amizades e o fortalecimento do grupo de apoio de Buffy, em especial de Giles, seu mentor, Wilow, que virá a ser a melhor amiga da protagonista, e Xander, que completa o grupo. O segundo aspecto principal é a própria autodescoberta da protagonista, que chega a Sunnydale querendo fugir de seu destino como caça-vampiros e, diante das grandes ameaças que surgem, assume o papel que a ela caberia pelo destino.
Inserida em um ambiente escolar, vão sendo apresentadas as “ameaças da semana”, passando por bruxas, insetos com forma humana e todo tipo de criaturas sobrenaturais. Em meio a isso, cada um dos protagonistas passa por algum tipo de provação ou experiência, que os faz crescer como pessoas e se integrar cada vez mais ao grupo. Uma curiosidade é que em diferentes episódios Buffy, Wilow e Xander passam pela experiência de desastres amorosos, chegando à conclusão de que talvez atraiam criaturas um tanto quanto estranhas.
Há episódios com temas bastante mais densos. O episódio sobre os medos que ganham forma física serve para mostrar as fragilidades de Buffy e que seus inimigos interiores talvez sejam mais perigosos que os vampiros ou qualquer outra criatura. O episódio em que a vilão é uma bruxa mostra uma relação de abusiva de uma mãe com a filha. O episódio sobre uma garota invisível coloca em cena o bullying e o sofrimento psicológico pelo qual passam suas vítimas.
Contudo, nada se comparada ao sofrimento de Buffy ao descobrir que teria de morrer para cumprir uma profecia. Esse é possivelmente o momento em que Sarah Guellar deixou claro que encarnava o papel da protagonista de forma brilhante. O sofrimento estampado no rosto de Buffy ao descobrir que morreria aos dezesseis anos é forte e marcante. Simbolicamente, independente do que acontece, esse é o rito de passagem de Buffy, seja para a vida adulta, seja para assumir em definitivo seu lugar como caça-vampiros.
Uma sensação curiosa sobre a série, a despeito dos efeitos especiais limitados, passa pela atualidade dos debates colocados. Numa época em que havia poucas super-heroínas como protagonistas, Buffy conquistou uma legião de expectadores que ainda hoje se emocionam com suas aventuras e riem com seu sacarmos ácido. Na primeira temporada vemos os primeiros passos dessa trajetória, com Buffy ainda sendo uma garotinha que procura seu lugar no mundo e que, ao final da temporada, diante de um evento traumático, dá um salto em sua vida.
Nota: 9