Queer: um filme sobre buscas por desejos

Daniel Craig deixa os tempos de James Bond para trás em grande atuação

Queer estreia nesta quinta-feira (17) e traz a história do exilado estadunidense Lee (Daniel Craig) e seu interesse romântico no jovem Gene (Drew Starkey) e numa misteriosa erva, que conheceu em um artigo científico e que lhe daria capacidades telepáticas: a Yagé. O filme dirigido e escrito por Luca Guadagnino é uma adaptação do romance homônimo de William S. Burroughs, inicia na Cidade do México dos anos 1950 e passa pela Floresta Amazônica nessa jornada.

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Primeiramente, o filme mostra um Daniel Craig quase irreconhecível para quem lembra de seus tempos de James Bond. O ator deixa seu 007 para trás e encarna um personagem completamente dessemelhante sem recorrer a artifícios de maquiagem ou figurino. Lee é um homem gay, viciado em drogas, fisicamente em declínio, envelhecido e,em muitas cenas, patético. O oposto de um superespião infalível.

Esse ar de patético se dá em muitas cenas que exibem a paixão de Lee por Gene , que parece ter reciprocidade sexual mas não emocional. Os dois parceiros têm cenas de sexo tórridas, mas raramente trocam carícias como um casal que se ama. Paralelamente, Queer mostra a busca constante de seu protagonista pela Yagé, a misteriosa erva que leu em um artigo e o conduz para uma obsessão por telepatia. Ao mesmo tempo que tenta se conectar emocionalmente com sua paixão sem sucesso, ele busca uma droga que permita que leia mentes. Ou se conecte mentalmente?

Cuidado com spoilers depois da imagem abaixo!

Queer retrata diferentes buscas do desejo, Mas principalmente pela intimidade e conexão amorosa
Queer retrata diferentes buscas do desejo, Mas principalmente pela intimidade e conexão amorosa

Duas vezes, Lee diz que não é gay, mas incorpóreo. Embora seja homossexual o que move seu desejo não é o sexo simplesmente, mas o desejo por afeto e intimidade. Mas como outros homens, ele tem dificuldade em se comunicar e expressar e deseja uma erva que lhe ajude a entender o que seus parceiros sentem e vice-versa. Vale lembrar que o próprio personagem fala que CIA e KGB estariam usando a Yagé para controle de mentes, tornando possível imaginar que ele cogitava, de alguma forma, controlar um parceiro que não parece ama-lo da mesma forma.

O clímax do filme ocorre quando, finalmente, o casal tem a experiência almejada. Ao vomitarem seus corações, expõem um para o outro como se sentem. Gene chega a ouvir da Dra. Cotter (Lesley Manville) que ele estava magnífico após a ingerir a droga. É por isso que ao saírem da floresta, ele está passos a frente do amante e depois desaparece. Lee não é mais capaz de acompanha-lo e seu desejo pela erva resultou no contrário do que esperava: na perda de seu amante.

A direção de Guadagnino (Me Chame Pelo Seu Nome) é um deslumbre técnico, especialmente nas cenas envolvendo alucinógenos. As cenas de sexo são bem dirigidas, coreogradas e têm erotismo sem serem pornográficas. Queer é um filme que faz jus ao livro e é uma história marcante para o cinema hollywoodiano e mundial. Vale lembrar, que o filme sofreu cortes e uma versão do diretor pode mudar o aspecto da película.

Nota: 8.5

Confira o trailer legendado de Queer (o texto continua depois do vídeo):

O que significa o final de Queer?

Por que Gene e Lee não terminam juntos? Como dito acima, o personagem de Craig é obcecado por encontrar uma erva que lhe ajude a se conectar emocionalmente com as pessoas. Ele recorre a bebidas e a drogas por ser inseguro demais para lidar com esta ausência. Ele chega a ouvir mais de uma vez que a droga não trará nada diferente em relação a outras, mas também que pode não estar preparado para usa-la e se ver como é.

A Yagé é quase como um espelho espiritual que permite que seu portador veja a si mesmo como é. Somente depois da ingestão Gene finalmente tem coragem para dizer a Lee que não compartilha da mesma sexualidade embora os dois tenham feito sexo. Ou seja, eles não terão um final feliz juntos. Os dois não aparecerão juntos novamente.

Um salto no tempo em Queer mostra Lee anos depois na Cidade do México vendo uma cobra que come a própria cauda, conhecida como ouroboros. É uma imagem que fala do ciclo da vida e renascimento, mas também de algo que se consome para prosseguir. Por isso, o personagem principal segue seu caminho de usuário de drogas e termina só em uma hospital. Definir o final como feliz ou não diz mais a respeito do espectador do que do filme. Ao dar seu último suspiro, vemos o rosto de Lee se iluminando indicando que a consciência do personagem ascende para uma condição etérea.

Se é o que Lee buscava ou não, fica a cada um de nós essa reflexão. Deixe a sua nos comentários abaixo.

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