Marcelo D2 é conhecido por suas letras impactantes e poéticas, que denunciam a desigualdades que as populações das favelas brasileiras vivem. Agora ele também é produtor-executivo e criador da série Amar é Para os Fortes ao lado de Camila Agustini e Antonia Pellegrino, que estreou no Prime Video no último dia 17. Inspirada no álbum e filme homônimos de D2, a produção traz um olhar empático sobre uma situação injusta que milhares de mães vivem.
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Era dia das mães, e só o que Rita (Tatiana Tibúrcio) queria era um almoço tranquilo com os filhos. Ela jamais imaginaria que seu caçula Sushi (João Tibúrcio) seria vítima de um confronto policial, simplesmente por ter saído para comprar uma flor. Como se não bastasse a dor do luto, Rita terá que lutar por justiça.
Com apenas 7 episódios em sua 1ª temporada, Amar é Para os Fortes é uma daquelas séries que não deixam você desgrudar da tela. A trama é visceral, verossímil, e te envolve porque você entende o que se passa na cabeça dos personagens. É impossível não compartilhar da dor de Rita, da raiva de Sinistro (Breno Ferreira) pela forma como seu irmãozinho foi assassinado, da compaixão da comunidade.
Apesar de ser precedida por um filme, a série traz uma trama bem distinta. Partilhando apenas os nomes de alguns personagens e a trilha sonora. Aqui o foco é nas mães. Não só Rita, mas Edna (Mariana Nunes), a mãe do policial que atirou. Ela sofre com o ato do filho Digão (Maicon Rodrigues), que só se tornou policial para agradar o pai.
Ao mostrar as angústias dessas duas mães, acontece a humanização destes que em geral são vistos apenas como estatísticas. Ambas mães pretas, que cresceram na comunidade. Uma criou sua família fora dali, a outra permaneceu. E ao mostrar o policial que atirou como um homem preto, dezenas de outros pontos do racismo estrutural vem à tona. Nunca passando pano, mas lembrando que ali também existe um ser humano, com uma família e uma história. Alguém que também sofre todas as pressões do sistema por uma excelência inatingível.
Quando você pensa no título Amar é Para os Fortes, parece bastante propício que o enfoque da trama seja nas mães. Afinal, não existe amor mais sincero e desinteressado que de uma mãe. É instintivo, visceral. Quando se mexe com uma, mexe com todas. A dor de Rita encontra eco em outras mães, tenham elas passado pela mesma situação ou não. Porque não existe dor pior do que perder um filho. Em paralelo, o crime de Digão dói em Edna. Ela quer justiça, e sabe o que isso implica para o filho. Nem por isso deixa de amá-lo. Sim, amar é para os fortes. E ninguém é mais forte que uma mãe.
É magnífico o tom que criadores e direção encontraram para contar essa história. Forte sem sensacionalismo. Sensível sem ser piegas. A cena do assassinato de Sushi não é explícita. Você não vê o tiro, nem sangue. Ainda assim, você sente o impacto, o peso daquele ato. Uma prova também do brilhantismo dos atores e atrizes envolvidos. Tatiana e João Tibúrcio, mãe e filho também na vida real, trouxeram um realismo emotivo inexplicável. Maicon Rodrigues é puro desespero quando Digão percebe o que fez. E Vilma Melo, como Marilucia, transparece toda a dualidade entre fidelidade à amiga e medo pelo próprio filho.
Outro ponto interessante está em Seu Rodrigo (Bukassa Kabengele), pai de Digão. A vida inteira de um homem com uma carreira de conduta ilibada na polícia lhe rendeu uma promoção para a Corregedoria. Mas onde fica a honestidade de um homem quando é seu próprio filho que comete um crime? Um dilema moral e tanto para se pensar.
Não dá pra deixar de falar no coletivo do qual Sinistro faz parte, junto dos amigos Peixe (Clara Moneke), Rato (Don Negralla), Snupi (Kibba) e Maninho (Sain Ktt). O grupo faz intervenções artísticas para protestar contra as desigualdades e injustiças que vivem, e a tragédia com Sushi passa a determinar os passos do grupo. Embora as vezes Sinistro não calcule as consequências de seus atos para os amigos, é um grupo unido e entrosado que traz até certa leveza. Mesmo que o que façam seja com seriedade, não deixam de se divertir.
Ainda não se sabe se Amar é Para os Fortes terá 2ª temporada, mas certamente existe mais história para ser contada. A audiência e excelentes avaliações, sem dúvida, terão grande peso na decisão. A série tem roteiros de Camila Agustini, Daniel Castro, Rafael Souza Ribeiro, Yasmin Thayná e Geovani Martins, e direção de Yasmin Thayná, Kátia Lund e Daniel Lieff.
Nota: 10
Confira o trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=pb-CG2On2CU?si=GROhQIbkvLrgja9K