Em 2014, estreava na televisão a série Penny Dreadful. O nome da série faz menção a publicações bastante populares, com histórias sangrentas de horror, na Inglaterra do fim do século XIX. Penny Dreadful, em suas três temporadas, tomou como referência três das maiores obras-primas literárias com personagens icônicos do horror: Drácula, Frankenstein e Dorian Gray.
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O primeiro episódio da série centra-se na busca por uma jovem cujo desaparecimento é investigado pelo pai e pela sua melhor amiga, que contratam um pistoleiro para auxiliá-los nesse trabalho. Nessa busca o trio acaba se defrontando com criaturas sobrenaturais assustadoras. Mina, a jovem desparecida, foi levada por um homem perigoso e sedutor, numa referência a Drácula.
O desenrolar da primeira temporada se dá por meio da busca por Mina, com cenas de flashback dos diferentes personagens. Resolvido esse desenlace, na segunda temporada o espectador é apresentado ao universo das bruxas e, na terceira, finalmente encontra Drácula.
O desenrolar da série coloca o espectador diante de uma aventura sobrenatural empolgante, cujo centro é, como logo se descobre, a disputa pela alma da protagonista, Vanessa Ives, interpretada por Eva Green. O vínculo de sua alma atormentada com uma poderosa figura sobrenatural é explorado ao longo das três temporadas da série, com destaque para um episódio de possessão da protagonista, em uma brilhante interpretação de Green.
Completam ainda o núcleo de protagonistas o jovem Frankenstein, que se vê diante dos problemas provocados por ter criado algo que enxerga como um monstro. O curioso é que nesse mundo de tantas maldades e personagens em busca de redenção a criatura de Frankenstein, ainda que com seus erros, é um ser sensível, quase uma criança no corpo de adulto, que ama poesia e tenta entender a caótica realidade ao seu redor. São também personagens relevantes Dorian Gray, com seus mistérios e festas, e Brona Croft, também ressuscitada por Frankenstein.
A série é possivelmente uma das melhores – talvez até mesmo a melhor – realizada nos últimos anos na televisão. O roteiro é de uma maestria raramente encontrada. O conjunto de atores, mesmo diante de um limitado Josh Hartnett, mostram um trabalho competente, pincipalmente por parte de Green e dos menos conhecidos Billie Piper, que interpreta Brona, e Rory Kinnear, que dá vida ao monstro de Frankenstein. Percebe-se um elevado custo de produção, não para garantir efeitos especiais perfeitos, e sim para fazer a reconstrução de uma Londres suja e perigosa que parece ter sido saída diretamente dos livros que inspiraram a série.
Mesmo sendo uma série de horror, o centro de Penny Dreadful está em apresentar uma densa reflexão sobre a humanidade, seus sofrimentos, e quais os caminhos que aquelas almas atormentadas podem seguir diante de situações extremas. A série é a melhor forma de entender o horror enquanto uma narrativa sobre um mundo em desequilíbrio na qual pessoas comuns enfrentam seus medos e precisam encontrar caminhos para superar o labirinto em que estão imersas.