Yuka

Partida de Yuka não deixa a paz sem voz

Letrista de primeira, Marcelo Yuka era o expoente mais universal de uma tríade que nasceu por último após os grupos Chico Science & Nação Zumbi e Racionais nos anos 90. Suas frases perfeitas n’O Rappa deixaram uma geração entendendo tudo o que sobrou do céu até o Lado B e Lado A em um Brasil que insiste em implodir seu sistema de trinta em trinta anos com consequências para pobres, negros e favelados. Não é pouco.

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Yuka deixou O Rappa logo após ficar paraplégico para insistir em tentar mudar o sistema. Seu trabalho continuou aparecendo no coletivo F.U.R.T.O. e em em aparições como Marcelo Yuka No Caminho das Setas, documentário em que tenta encontrar os assaltantes que lhe aleijaram. A biografia Não Se Preocupe Comigo, com o jornalista Bruno Levinson,  ganharia ares de despedida não fosse Canções Para Depois do Ódio, seu CD de inéditas ao lado das cantoras Céu e Cibele e lançado três anos depois, em 2017.

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Não há nada mais “anti-Yuka” do que o momento atual. É normal que tenhamos ressentimento com um mundo que nos tomou o artista justo numa das nossas horas mais escuras. Mas ao mesmo tempo, exaltemos o privilégio de ter vivido na mesma época que ele. Seu trabalho persiste. E canta mais alto, acima dos berros de loucura que insistem em se impor. Sua autobiografia lançada em 2014 se torna um poderoso manifesto de como todos nós podemos ser um pouco melhores. Ainda vale a pena ler Não Se Preocupe Comigo para descobrirmos que devemos sim nos preocupar com o próximo.

E que cantemos juntos sempre porque aprendemos que paz sem voz não é paz. É medo.

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