“Quem matou Daniela Perez?” foi uma pergunta que deixou de fazer sentido muito rápido com a descoberta rápida do envolvimento de Guilherme Pádua seguida da confirmação do envolvimento de sua esposa Paula Thomaz. Porém, a partir daquela conclusão seguiria-se um inquérito penoso de anos e uma horda de sensacionalismo de revistas de fofoca e programas que mataram a atriz novamente com especulações e boatos que nunca foram comprovados. Ou seja, mentiras lançadas pelos mesmos que a assassinaram.
Ainda que a verdade sempre se imponha, Pacto Brutal – O Assassinato de Daniela Perez é uma série documental da HBO que tem o objetivo não de fazer jornalismo ou trazer novas informações sobre o caso mas de consolidar a única versão que importa: a da vítima e de seus entes queridos. Ou seja, a verdade. Dirigido por Guto Barra e Tatiana Issa (ex-atriz da Globo e contemporânea de Daniela) a produção se assume desde o início não como uma novidade a respeito de uma morte brutal e criminosa, mas como uma história que precisa ser contada sob o ponto de vista dos entes queridos que perderam uma filha, esposa ou amiga e não da versão que cria um suposto mistério ou alguma história inacreditável que apenas os assassinos conheceriam. A atriz, filha de Gloria Perez, foi assassinada por duas pessoas frias, cruéis e insensíveis em um crime premeditado com requintes de ritual – a série explora esta possibilidade, mas assim como o inquérito não esgota o assunto além de depoimentos e ilações – e que chocou uma geração inteira de brasileiros. Tinha doze anos e lembro como era estranho ver uma celebridade tão jovem e talentosa, ser assassinada como em filmes de detetive. Era uma lembrança cruel não só da nossa mortalidade, mas principalmente que a crueldade não é exclusividade de nenhuma ficção. Está ao nosso lado, inclusive nos dias de hoje quando os assassinos da atriz ganharam liberdade e seguem suas vidas como se nada tivesse acontecido.
Os cinco episódios da série cumprem esse papel de dar voz a vítima em um acerto de não entrevistar os assassinos. Com o depoimento de advogados e policiais que participaram da acusação descobrimos como é difícil encontrar o culpado por um assassinato mesmo se a vítima for a filha de uma autora de novela, protagonista de um folhetim das oito e ser amiga dos mais famosos artistas nacionais da época. É a polícia do mesmo Brasil que insistiu em matar Daniela depois em fotos e textos pseudojornalísticos que questionavam sua idoneidade. Todo o casting de entrevistados parece um acerto pelo seu papel á época embora seja difícil ver Sonia Abrãao, responsável pela cobertura mais sensacionalista e desastrosa da TV, no lugar de fonte.
Apesar desse e de eventuais erros, Pacto Brutal: O Assassinato de Daniela Perez cumpre seu papel de reafirmar a verdade e afastar de vez as mentiras. Com o tempo, pode ser necessário que se conte esta história de novo. E de novo. Seja o preço que for, a sociedade já deixou claro que repetirá cinco verdades para cada mentira que contarem sobre Daniela e sua morte. Ninguém irá esquecer.
Nota: 8
Assista ao trailer da produção HBO: