A série The Walking Dead se encaminha para o término de sua nona temporada, na qual introduziu um dos mais destacados grupos de vilões dos quadrinhos, os Sussurradores. Trata-se de um grupo nômade que se veste com pele dos zumbis e que perdeu muitos dos traços de civilização. Eles não apenas se confundem com os mortos-vivos no modo de andar ou na aparência dos rostos, mas também em seu comportamento irracional e violento.
Faltando pouco para acabar a temporada, com a chegada da feira, na qual os Sussurradores deixaram profundas marcas, é possível fazer um balanço do que foi sua aparição na série até o momento, a partir de três elementos.
Em primeiro lugar, a aproximação com os quadrinhos originais, mantendo uma grande fidelidade em seus aspectos fundamentais, especialmente na caracterização do grupo de vilões. Apesar disso, no âmbito do roteiro foi preciso fazer muitos malabarismos, devido principalmente à morte de Carl Grimes na temporada anterior. Um personagem insonso e irrelevante como Henry acabou ganhando o arco na interação com Lydia, filha de Alfa, a líder dos Sussurradores. Fica difícil acreditar que uma jovem amadurecida pelo embrutecimento que viveu desde pequena possa se interessar por um garoto infantil e bobalhão com Henry.
Segundo, o arco da própria Lydia foi amenizado. Corretamente ela se tornou o centro do embate dos Sussurradores e tanto a jovem atriz que a interpreta como Samantha Morton, que interpreta Alfa, tem garantido alguns bons momentos de interpretação. Contudo, talvez devido às exigências da televisão, o arco foi amenizado em pelo menos um aspecto, que é a prática de estupros entre os Sussurradores. Se Lydia consegue encarnar coragem e sofrimento apesar da pouca idade, um dos aspectos é o fato de ter sido permitida a violência sexual contra ela pela própria mãe. O acerto da série é mostrar uma certa ambiguidade de Alfa em relação a sua filha, indo em poucos segundos de demonstração de amor fraterno a demonstrações de violência.
O terceiro aspecto foi a inserção de histórias paralelas sem interesse, enquanto mostrava-se a participação dos Sussurradores. Um dos melhores episódios dessa segunda metade da temporada foi o único centrado nos Sussurradores, mostrando como funciona seu acampamento, quais as relações de poder e submissão que existem ali, entre outras coisas. Outro episódio interessante foi o que colocou frente a frente Beta, segundo no comando dos Sussurradores, e Daryl, num confronto que deveria ter sido de vida ou morte. A maior parte das demais histórias apresentadas foram claramente para ocupar o tempo dos episódios, como no caso do arco dos Salteadores, que apareceram na série apenas para morrer na feira.
Portanto, considerando o que foi mostrado dos Sussurradores, a expectativa de um arco bem realizado vem se confirmando, ainda que haja pequenas diferenças com o original e faça muita falta a presença de Carl. Contudo, entre os demais grupos, muitos personagens se tornaram obsoletos e importantes figuras, como Michonne e Daryl, foram subaproveitados. Michonne teve apenas um grande momento nesses últimos episódios, em sua busca por se reconectar com Judith, sua filha de criação. Daryl brilhou em sua luta contra Beta, e nada mais. Além disso, a saída de Maggie, no mesmo momento que Rick, e a ausência de Carl, fizeram a série perder algumas das coisas que tinha de melhor.
Passada a feira e as cabeças nas estacas, as comunidades e seus moradores deverão lidar com o trauma e organizar sua reação contra os Sussurradores. Fica a expectativa de que Negan, totalmente subaproveitado desde que perdeu a guerra contra Rick, tenha importância no combate que virá. Um encontro de Jeffrey Dean Morgan com Samantha Morton colocaria em cena os dois melhores atores que atualmente estão na série e dois dos vilões mais emblemáticos dos quadrinhos.
Ficamos no aguardo dos próximos passos dessa caminhada dos mortos, que, se confirmada notícias veiculadas pela imprensa, talvez chegue ao seu final na décima temporada. O futuro mostra-se incerto em meio ao apocalipse zumbi.
