Na última quinta-feira (22) chegou aos cinemas brasileiros a mais nova animação da Disney e Pixar: Elementos (Elemental). O longa usa personificações dos elementos da natureza (água, fogo, terra e ar) para contar uma história envolvendo temas como preconceito, respeito às tradições e amores impossíveis. A proposta é interessante, mas falta consistência.
A trama gira em torno de Faísca (Leah Lewis), uma filha de imigrantes que cresceu sabendo o que é não ser respeitada no lugar onde vive. Ela espera pelo dia em que assumirá a loja do pai, mas um incidente a faz conhecer o inspetor Gota (Mamoudou Athie) e catastroficamente recebe 30 multas. Colocando tudo que os pais construíram em risco. Com a intenção de resolver o problema, Faísca e Gota acabam se aproximando. E o que começa com amizade relutante se transforma em romance improvável.
Quando um estúdio conhecido por seus títulos emotivos e profundos que rompem a barreira dos filmes infantis se propõe a fazer algo repleto de alegorias, você fica no mínimo curiosa. Mesmo que o trailer soe infantil com os protagonistas feitos de fogo e água, as entrevistas e informações te levam a ter um pouco de esperança. Afinal, a Pixar fez Divertida Mente! E a ideia da diferença entre os elementos ser usada para falar das dificuldades enfrentadas por imigrantes em um novo país é promissora. Mas não basta.
É inegável a criatividade por trás do conceito. Como revelou o criador e diretor Peter Sohn em entrevista à /Film, tudo começou há 7 anos quando ele comentou no estúdio sobre as piadas que fazia no ensino médio com a tabela periódica. E também contou sobre um evento onde pode agradecer aos pais (imigrantes da Coreia) pelos sacrifícios que fizeram. Foi nesse momento em que a produtora Denise Ream lhe disse que essa seria seu próximo filme.
Como roteirista, chamaram Brenda Hsueh (Red: Crescer é uma Fera). Mais de 100 funcionários, imigrantes de primeira ou segunda geração, foram ouvidos para que a história do filme fosse também a história deles. Mais de 50 artistas foram selecionados para criar a animação, que até ganhou um departamento novo. E até o escritor e criador de idiomas David J. Peterson (responsável pelas linguagens de Game of Thrones e da nova versão de Dune) foi chamado para criar o idioma das pessoas de fogo, o “Firish”.
Então, tecnicamente falando, é preciso reconhecer todo o trabalho feito para que Elementos existisse. O fato de termos personagens feitos de fogo e água, efeitos dificílimos de fazer, já mostra o quanto precisaram trabalhar. O problema é que nada disso adianta se não existe nada memorável quando o filme acaba. Sim, é tudo muito colorido e belo. Alguns momentos são realmente de encher os olhos e as piadas visuais são divertidas. Mas sabe quando você sai do cinema comentando as melhores partes com as pessoas que foram com você? Não acontece porque nada é realmente marcante.
O que também dificulta um pouco a conexão é a inconsistência do universo do filme. Por exemplo, existem as pessoas de água e água que é apenas água. As pessoas de água podem se fundir com a água, mas não com outras pessoas de água. E as pessoas de terra são feitas de plantas, mas as pessoas de fogo se alimentam de gravetos e carvão feito com madeira. E você não vê nenhuma árvore além das pessoas de terra. Então as pessoas de fogo se alimentam de partes das pessoas de terra?
Tudo bem que as metáforas funcionam, mas esse conceito todo dos elementos acabou ficando muito infantil. E levando em conta que é o primeiro filme Pixar a ter como centro um amor impossível, parece contraproducente. Parece que faltou planejarem qual seria o público-alvo. Pois as crianças não pegarão a referência quando Faísca e Gota vão ao cinema assistir Orgulho e Preconceito, e os adultos menos persistentes talvez já tenham dormido nessa parte. Levando isso tudo em consideração, o curta O Encontro de Carl (inicialmente programado como um episódio de A Vida de Dug) exibido antes do longa acaba sendo melhor.
Enfim, Elementos promete muito e entrega bastante. Porém, as coisas que entrega não conversam entre si. Poderia ter uma história profunda e ser revolucionário em técnicas de animação. Mas mirando nos dois atingiu o nível de um filme esquecível.
Nota: 7
Confira o trailer: