Aproveitando o finalzinho do mês da consciência negra, peguei para ler a autora Paulina Chiziane. O alegre canto da perdiz foi escrito originalmente em português, apesar da língua materna de Paulina ser outra. Mas, como muitos moçambicanos ela aprendeu português numa missão católica.
spoiler free
Só a história da autora já dava um livro: primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, militante política que resolveu sair do partido por conta do seu posicionamento contra a poligamia e por sua luta pela independência econômica das mulheres. Paulina Chiziane ainda por cima escreve bem. Foi um dos livros que li esse ano que mais marquei passagens que me tocaram por sua beleza e sinceridade. Fiquei extremamente triste quando descobri que ela parou de escrever por causa das dificuldades impostas a sua carreira.
O alegre canto da perdiz traz diversas histórias entrelaçadas, com três gerações que lutam por melhorias em suas vidas e lutam entre si pela forma de se chegar lá. O livro ainda tem diversas passagens mitológicas, que dialogam com a história, que é centrada em Maria das Dores, uma mulher em condição de rua na Zambézia.
O alegre canto da perdiz não é uma história feliz. Mas Paulina a escreve com tanta maestria que é de uma beleza incrível, e extremamente africana. Amei o livro com tanta força que mesmo tendo detestado o final, não posso dizer que não gostei da obra como um todo. Mas o final, por que Paulina? Para que? Não entendi o propósito, confesso. Mas a culpa provavelmente é minha.
Nota 9.