O filme Nosferatu, dirigido por Robert Eggers, conquistou quatro indicações ao Oscar: Melhor Figurino, Melhor Design de Produção, Melhor Fotografia e Melhores Efeitos Visuais. Embora sejam categorias menos badaladas, mostra, por um lado, um certo reconhecimento da qualidade técnica do filme. Por outro, consegue um feito raro, afinal foram poucos os filmes do cinema de horror conseguiram alguma indicação e menos ainda os que ganharam algum prêmio.
Segundo lista que pode ser consultada no IMDB, somente 22 filmes classificados como horror ganharam algum prêmio no Oscar. Considerando que foram realizadas até agora 96 edições do Oscar, significa que, em média, um filme de terror somente consegue ser premiado a cada quatro ou cinco anos.
Contudo, essa lista inclui filmes que estão muito mais para suspense, como no caso de O Silêncio dos Inocentes, ou para a ficção científica, a exemplo de Alien. Nessa lista ampla, na atual edição do Oscar seria possível incluir, além de Nosferatu, os filmes A Substância e Alien: Romulus, que foram indicados na categoria de Melhor Filme. Além disso, A Substância foi indicado em outras categorias, como Melhor Atriz, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Maquiagem e Penteado.
De forma geral, os filmes receberam premiações em categorias técnicas, como o de Melhor Maquiagem, vencido de forma merecida por A mosca (1986), dirigido por David Cronenberg. O filme Drácula (1992), de Francis Ford Coppola, com o qual o novo Nosferatu dialoga bastante, venceu em três categorias: Melhor Maquiagem, Melhor Figurino e Melhores Efeitos Sonoros.
Outros filmes venceram o prêmio em categorias técnicas, como a de Melhor Direção de Arte, vencida por O Fantasma da Ópera (1943), A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999) e Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007). O filme Um Lobisomem Americano em Londres (1981) venceu na categoria de Melhor Maquiagem.
Entre as categorias de maior destaque, somente quatro filmes se sobressaíram na história do Oscar. Um deles foi O Médico e o Monstro (1931), no qual Fredric March venceu o prêmio de Melhor Ator.
Outro filme foi O Bebê de Rosemary (1968), no qual Ruth Gordon venceu como Melhor Atriz Coadjuvante. Roman Polanski, indicado para Melhor Roteiro, não foi premiado.
O clássico O Exorcista (1973), além de ter vencido como Melhor Som, também conquistou a categoria de Melhor Roteiro Adaptado. O filme concorreu, mas não venceu, em outras categorias, como Melhor Direção e Melhor Filme.
Mais recentemente, Corra! (2017), de Jordan Peele, venceu na categoria de Melhor Roteiro Original, sem ter levado o prêmio em categorias como a de Melhor Filme ou de Melhor Ator, para as quais também foi indicado.
Portanto, se observa que os poucos prêmios recebidos por filme de horror não envolvem questões como melhor direção ou melhor filme e raramente passam por interpretação ou mesmo por roteiro. Esse é um sintoma daquilo que percorre o senso comum de que o cinema de horror não conta boas histórias ou o faz de forma ruim.
Um filme de horror precisa chegar à beira da perfeição em diferentes quesitos para garantir pelo menos uma indicação em algum prêmio. Nesse aspecto, a maquiagem de A mosca ou o figurino de Drácula, em sua época, se mostraram trabalhos de elevadíssima qualidade e, por conta disso, arrancaram seus respectivos prêmios.
Outro elemento que chama atenção é que, com exceção de David Cronenberg e de Jordan Peele, diretores consagrados cinema de horror que nunca foram sequer indicados ao Oscar. Essa lista inclui nomes como John Carpenter, George Romero, Dario Argento e Wes Craven.
Nem mesmo em outras premiações os filmes desses diretores do cinema de horror encontraram espaço, ainda que Cannes tenha aberto espaço, mesmo que pequeno, para obras de horror. Nesse sentido, fica a impressão de que os filmes de horror, mesmo contando com grandes diretores ou produzindo boas obras, são considerados ruins ou de qualidade duvidosa e, por isso, acabam atraindo pouca atenção da crítica.
O novo Nosferatu é o mais recente filme do cinema de horror que pode tentar quebrar essa lógica. Nas quatro categorias em que concorre, Melhor Fotografia pode ser o que mais tenha chance, considerando o trabalho realizado por Jarin Blaschke. Contudo, independente do que venha a acontecer neste domingo, permanece o fato de que grandes obras do horror sequer foram indicadas.
O grande mérito de Nosferatu é o de chamar atenção para a eventual qualidade que possam ter os filmes de horror. O cinema de horror não se resume a adolescentes fugindo de um assassino em série numa floresta ou possessões misteriosas. Existem muitos grandes filmes de horror que contam boas histórias e o fazem com toda a qualidade que se espera de uma produção de cinema.