No Ritmo do Coração
No Ritmo do Coração

‘No Ritmo do Coração’ faz muito com pouco

Um filme simples, envolvente e inquietante.

Existem filmes que se parecem com outros, que usam conceitos já um tanto batidos. Conceitos que tocam por sua verossimilhança, e provavelmente por isso são muito usados. Mas que possuem detalhes que os tornam únicos. No Ritmo do Coração (CODA), que chegou ao Amazon Prime Video em 7 de janeiro, é um desses filmes.

++ Leia também: saiba onde assistir os filmes indicados ao Oscar 2022

Aos 17 anos, Ruby (Emilia Jones) é uma adolescente que concilia os estudos com os negócios da família. Como muitas de sua idade ela é apaixonada por música, e por aconselhamento e insistência do professor Villalobos (Eugenio Derbez) resolve tentar uma vaga na Universidade de Berklee. Mas ela fica em dúvida entre seguir seu sonho e ajudar a família, já que por ser a única ouvinte numa família de surdos ela é a ponte de comunicação entre eles e o mundo.

Em tramas de crescimento, a luta interior de Ruby é um lugar-comum. Muitos jovens ficam divididos entre o sonho e ajudar a família, e vemos essa trama com tanta frequência porquê ela é real. Mas o diferencial aqui é que a família realmente precisa dela. Ruby precisa ser intérprete de seus pais e irmão no trabalho, em consultas, compras… E isso nos leva a uma crítica social, pois ainda é preciso mudar muito para que realmente haja integração das pessoas com deficiência na sociedade. Pense um pouquinho: Quantas vezes você já pensou em aprender uma nova língua para falar com pessoas diferentes e até incrementar o currículo? Em quantas das vezes a língua cogitada era a língua de sinais?

No Ritmo do Coração: filme da Amazon conta o drama e os sonhos de uma família
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Outro diferencial de No Ritmo do Coração é ter uma protagonista sem deficiência numa família de pessoas com deficiência, quando o comum é vermos o contrário. Tanto que o nome original do filme CODA, é a sigla para child of deaf adults (criança de adultos surdos), faz referência a isso. Mas isso não leva o filme a ter um ar pesado de dramalhão, pelo contrário. Embora existam momentos emocionantes, a família é divertida e alegre. E apesar de a surdez ser um elemento que inicialmente faz o sonho da garota ser incompreendido, a situação é comum para muitos. Há centenas de pais que não aceitam sob nenhuma hipótese que os filhos sigam uma carreira artística.

Os três atores escolhidos para viver a família de Ruby são surdos na vida real: Troy Kotsur é o pai Frank, Marlee Matlin a mãe Jackie, e Daniel Durant o irmão Leo. Matlin é a única atriz surda a ganhar um Oscar de Melhor Atriz, em 1986 pelo filme Os Filhos do Silêncio. E agora, Kotsur é o primeiro ator surdo indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. É importante dizer que além de excelentes atuações, o quarteto traz um entrosamento e sinergia singulares. Impossível não vê-los como uma família. Você torce, ri, e se emociona com eles. E não posso deixar de dizer que além de ótima atriz, Jones tem uma voz maravilhosa.

Roteirizado e dirigido pela cineasta Sian Heder, No Ritmo do Coração é inspirado em A Família Bélier, filme francês de 2014. Além da indicação a Kotsur, o longa também concorre como Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado nos Oscars 2022. Pode não ter os figurinos e efeitos de Duna e de filmes da Marvel, nem trazer argumentos realmente inovadores. Mas com o pouco que tem consegue realizar e significar muito. Recomendado.

Nota: 8,5

Confira o trailer:

 

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