Neil Gaiman quebra o silêncio”‘sinto que devo dizer algo’

Autor admite parte das acusações, mas nega falta de consentimento

Atenção: se você ou alguém que conhece está passando por um momento difícil, procure ajuda. O Centro de Valorização da Vida tem voluntários que podem conversar e ajudar a superar suas dificuldades ou gatilhos. Ligue 188 ou envie um e-mail: apoioemocional@cvv.org.br.

Neil Gaiman respondeu a reportagem da New York Magazine que repercutiu no mundo nesta segunda-feira (13). O autor admitiu que parte do que foi descrito no texto seria verdade, mas negou qualquer possibilidade de falta de consentimento em relações de sexo violento que deixaram um rastro de acusações fortes e que envolve sua ex-mulher Amanda Palmer. “Na época em que eu estava nesses relacionamentos, eles pareciam positivos e felizes de ambos os lados”, detalha. “E também percebo, olhando para eles, anos depois, que eu poderia e deveria ter feito muito melhor. Eu estava emocionalmente indisponível enquanto estava sexualmente disponível, focado em mim mesmo e não tão atencioso quanto poderia ou deveria ter sido”.

Na carta publicada em seu site, Gaiman admite tentar mudar, mas nega especificamente estupro ou abuso sexual. “Para repetir, nunca me envolvi em atividade sexual não consensual com ninguém”, ressalta.

Confira a carta de Neil Gaiman:

“Quebrando o silêncio

Nos últimos meses, tenho assistido às histórias que circulam na internet sobre mim com horror e consternação. Fiquei quieto até agora, tanto por respeito às pessoas que estavam compartilhando suas histórias quanto por um desejo de não chamar ainda mais atenção para muita desinformação. Sempre tentei ser uma pessoa reservada e sentia cada vez mais que as mídias sociais eram o lugar errado para falar sobre assuntos pessoais importantes. Agora cheguei ao ponto em que sinto que devo dizer algo.

Ao ler esta última coleção de relatos, há momentos que reconheço pela metade e momentos que não, descrições de coisas que aconteceram ao lado de coisas que enfaticamente não aconteceram. Estou longe de ser uma pessoa perfeita, mas nunca me envolvi em atividade sexual não consensual com ninguém. Nunca. 

Voltei a ler as mensagens que troquei com as mulheres e depois das ocasiões que foram posteriormente relatadas como sendo abusivas. Essas mensagens são lidas agora como eram quando as recebi – de duas pessoas desfrutando de relacionamentos sexuais totalmente consensuais e querendo se ver novamente. Na época em que eu estava nesses relacionamentos, eles pareciam positivos e felizes de ambos os lados.

E também percebo, olhando para eles, anos depois, que eu poderia e deveria ter feito muito melhor. Eu estava emocionalmente indisponível enquanto estava sexualmente disponível, focado em mim mesmo e não tão atencioso quanto poderia ou deveria ter sido. Era obviamente descuidado com os corações e sentimentos das pessoas, e isso é algo que eu realmente, profundamente me arrependo. Foi egoísmo da minha parte. Eu estava preso na minha própria história e ignorei a de outras pessoas.

Passei alguns meses refletindo profundamente sobre quem eu era e como fiz as pessoas se sentirem. 

Como a maioria de nós, estou aprendendo e tentando fazer o trabalho necessário, e sei que esse não é um processo da noite para o dia. Espero que, com a ajuda de pessoas boas, eu continue a crescer. Entendo que nem todos vão acreditar em mim ou mesmo se importar com o que eu digo, mas farei o trabalho de qualquer maneira, para mim, minha família e as pessoas que amo. Farei o meu melhor para merecer a confiança deles, assim como a confiança dos meus leitores.

Ao mesmo tempo, ao refletir sobre meu passado – e ao rever tudo o que realmente aconteceu em oposição ao que está sendo alegado – não aceito que tenha havido qualquer abuso. Para repetir, nunca me envolvi em atividade sexual não consensual com ninguém.

Algumas das histórias horríveis que estão sendo contadas agora simplesmente nunca aconteceram, enquanto outras foram tão distorcidas do que realmente aconteceu que não têm relação com a realidade. Estou preparado para assumir a responsabilidade por quaisquer erros que cometi. Não estou disposto a virar as costas para a verdade, e não posso aceitar ser descrito como alguém que não sou, e não posso e não vou admitir ter feito coisas que não fiz.”

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