Conheci na minha infância um menino mais novo que eu, que sempre foi um sujeito muito da paz. Enquanto o irmão gostava de futebol, ele sempre preferiu o vôlei e a ginástica olímpica, que praticava enquanto jogávamos bola. Quando Cavaleiros do Zodíaco foi aquele sucesso estrondoso, cada um tinha seu favorito. O daquele menino sempre foi Shun, o Cavaleiro de Andrômeda. Ele não era diferente de nós, apenas se sentia representado por um guerreiro que sinalizava ter uma sexualidade diferente dos demais heróis.
Perdi o contato com aquele rapaz, mas sempre lembrei de Shun como um personagem importante para representatividade. Ele era um dos cavaleiros mais poderosos e, se seguisse o padrão heteronormativo, certamente seria um dos mais populares com as mortais correntes de andrômeda. Por isso, lamentei demais quando li no J Box que a nova versão de Cavaleiros do Zodíaco no Netflix irá alterar o sexo do personagem.
Não podemos esquecer que em Cavaleiros do Zodíaco, Shun é o mais sensível dos cinco heróis. Evita sempre a violência, representa uma constelação que é uma mulher e sua armadura rosa chega a insinuar os contornos de seios. Qualquer um que gostasse mais do Cavaleiro de Andrômeda, seria taxado com piadas homofóbicas na infância. Mas o fato dele existir algo simbolizava algo para todos nós. Algo que precisamos aprender que é absolutamente normal e não é questão de escolha respeitar ou aceitar.
A mudança de sexo é pior quando lembramos que no universo original as mulheres já existiam. Saori, reencarnação da deusa Atena, é a causa da primeira temporada assim como as Amazonas têm um papel fundamental na trama. Tornar Shun uma mulher, apenas apaga o LGBTQ+ de um desenho pop tão marcante.
O roteirista Eugene Son comentou a polêmica. E basicamente disse que para quem não gosta “a série talvez não seja para você” e que “vai fazer isso mesmo”. O seriado talvez não seja para ninguém que não queira continuar vivendo em um mundo de ódio mesmo.
E você, o que achou?