Aproveitando o mês do tema do Desafio Literário Popoca de julho, poesia, resolvi finalmente ler meu primeiro livro da poetisa brasileira Cora Coralina. Sim, confesso que nunca tinha lido nada da goiana que ascendeu ao estrelato literário aos 76 anos, apesar de escrever desde jovem.
SPOILER FREE
Só a história de Cora Coralina já é algo digno de livro e filme, mas, como boa poetisa, ela conseguiu imortalizar parte da sua jornada em seus poemas. E esses foram os meus preferidos dessa edição da editora Global Pocket organizado por sua conterrânea Darcy França Denófrio. A coleção inclui diversos poemas de seus consagrados livros Poemas dos becos de Goiás, Meu livro de cordel e Vintém de cobre. Cora Coralina nasceu em 1889 em Goiás, em uma família que havia sido rica mas estava no processo de perder sua fortuna, sendo ela a filha caçula e com o pai morrendo quando ainda era muito criança, Cora (que é um pseudônimo para Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas) teve uma infância difícil e relativamente pobre. Apesar de se enveredar desde cedo pelas letras, os relatos dizem que ela cursou entre 2 e 4 anos da escola primária apenas. Se envolveu desde cedo com o meio literário goiano, mas só veio publicar um livro seu em 1965, quando já era viúva.
Cora é um retrato da vida feminina da sua época, quando criança era trancada em casa por ser menina e não deram lá muito estímulo para ela estudar. Mais tarde quando casou, parou tudo o que amava e se dedicou 100% à família, chegando a virar doceira após a morte do marido para sustentar a família, e só saiu das sombras quando era uma venerável senhora. Mas saiu com vontade, revisitando a fundo a sua infância e aproveitando para mostrar todo o horror dela.
Além da infância, que é um tema importante na sua obra, Cora Coralina escreve muito sobre sua terra natal, o que é interessante para quem não está acostumado com obras tão ricas sobre o interior do Brasil pré-Brasília. E o mais interessante é ver histórias tão antigas, de um tempo que parece tão longínquo sendo contada em forma de verso coloquial e bem moderno. Porque claro que a poetisa fez sucesso não só pelos temas e idade avançada, e sim pela qualidade, força, honestidade e inovação da sua escrita.
Dito tudo isso, gostei da coletânea, mas, não fiquei arrebatada. Gostei especialmente dos poemas estilo Aninha da autora (os autobiográficos da infância), mas nem todos os outros me marcaram. Por vezes, confesso que achei um tanto quanto repetitivo, e nem sempre o estilo modernoso da sua escrita me agrada. Mas, sei que isso é uma questão minha e não da autora.
Ainda assim recomendo muitíssimo ler sua obra. E se ficar na dúvida do que ler primeiro, pegue uma coletânea como eu fiz. Vale a pena.
Nota 8,5.
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