Na última sexta-feira (18) chegou à Netflix o filme Mães Paralelas (Madres Paralelas), mais uma obra do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. Muito elogiada pela crítica profissional, a produção contém ares de novela. Mas confesso que essa sensação pode ser causada por falta de afinidade com a obra do cineasta.
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Janis (Penélope Cruz) é uma fotógrafa profissional que se torna mãe solo. Já no hospital, esperando a hora do parto, divide o quarto com Ana (Milena Smit). Uma garota de 17 anos também prestes a se tornar mãe solo. Enquanto Janis está feliz e empolgada com a maternidade, Ana sente medo e arrependimento. Elas simpatizam uma com a outra, e nem imaginam o quanto suas vidas impactarão uma na outra.
Aprendi ainda na escola que “paralelas” são linhas que seguem no mesmo sentido, em direção igual ou oposta, e que nunca se cruzam. Tendo isso em mente, imaginei que o filme abordaria duas histórias de mães que tivessem seus filhos no mesmo dia, mas que jamais voltariam a se ver e teriam experiências distintas com a maternidade.
Ledo engano.
De fato, elas têm experiências distintas, até pelo momento de vida em que se encontram. Mas suas vidas não só voltam a se cruzar como se emaranham. Isso porque suas filhas são trocadas na maternidade, acontecimento até previsível no momento em que é revelado que bebês precisam ficar em observação. Como toda vez que um caso de troca de bebês vai para a mídia gera comoção pública, poderia ser interessante ver um filme abordando o assunto. Exceto que quando Janis descobre a troca, contrariando todas as expectativas, ela não conta para ninguém. Pior, contrata Ana como babá e as duas chegam a viver um romance. What The Fuck?
E quando ela conta, ninguém processa o hospital. Em que mundo essa gente vive?
Na verdade, o filme é muito mais sobre Janis do que sobre Ana. Uma vez que desde o início sabemos quem é o pai da filha de Janis, enquanto que só descobrimos a história da gravidez de Ana quase no final do filme. Numa revelação brutal e indigesta, uma verdadeira crítica ao mundo machista. E outra que temos uma subtrama envolvendo o bisavô de Janis. Isso porque é um dos desaparecidos da Guerra Civil Espanhola, ocorrida na década de 1930. E o pai da bebê de Janis é Arturo (Israel Elejalde), o antropólogo forense que ela contrata para escavar a fossa onde estaria o corpo do bisavô e outros desaparecidos do vilarejo. Essa subtrama ocupa apenas o início e o fim do filme, mas gostaria muito mais de um filme inteiro dedicado a honrar a memória dos desaparecidos de guerra e que mostrasse os trâmites legais para abertura das fossas do que uma história mal aproveitada sobre bebês trocados. Entendo a metáfora, mas não acho que tenha funcionado bem.
Mães Paralelas recebeu duas indicações nos Oscars 2022: Melhor atriz (Penélope Cruz) e Melhor Trilha Sonora.
Nota: 6,5
Confira o trailer: