Locke & Key tinha tudo para fazer sucesso. Um universo sólido de quadrinhos criados por Joe Hill e ilustrada por Gabriel Rodriguez, publicada pela editora IDW Publishing, davam o tom ideal. Mas a produção optou por suavizar bastante a história e transformar numa espécie de Harry Potter pobre e superficial. Eu não trocaria nenhum livro da coleção Vaga-Lume para assistir outra temporada da série na Netflix.
Então, a resposta para mim é sim, Locke & Key me decepcionou. Bastante.
A família Locke se recupera do assassinato do patriarca Rendell Locke (Bill Heck) e, sua viúva, Nina ( Darby Stanchfield), resolve que é uma boa ideia se mudar com os filhos Tyler (Connor Jessup), Kinsey (Emilia Jones) e Bode (Jackson Robert Scott) para a cidade natal dos Locke. Na casa, descobrem que misteriosas chaves com poderes místicos têm relação com o passado da família, mas parecem ativadas de forma completa apenas em circunstâncias específicas que eles precisam entender quais.
As regras do mundo inconfundível, a magia do universo e a jornada de alguns personagens são pontos fortes que a produção herda da obra original. Porém, o roteiro do trio
Meredith Averill, Carlton Cuse e Aron Eli Coleite não explora ou desenvolve estes elementos apostando em soluções apressadas, apresentações rápidas e problemas sem conflito.
É claro que isso afeta as atuações. Nenhum ator ou atriz consegue recuperar a verossimilhança perdida em cenas que vão de assassinatos mal dissimulados a vilões que se perdem em discursos intermináveis. Mesmo boas ideias, como o plot para uma segunda temporada, se perdem no meio de tanta obviedade. Os personagens se apaixonam muito fácil (a jovem Kinsey, por exemplo, ama duas pessoas e fica com só uma delas de boa), superam tragédias muito rápido (Nina supera o desfecho de sua relação com o diretor Steven Williams e seu vício no alcoolismo de forma exemplar para qualquer Centro de Valorização à Vida) e vencem confrontos insuperáveis sem pensar muito (como ocrre com o desafio final).
Há elementos em Locke & Key para que tudo melhore em um retorno e a Netflix já anunciou sua renovação. Mas caso não haja uma mudança severa na criação, o ideal é ficarmos só com os quadrinhos mesmo. Sem dúvida, mais gente deveria ler…
Nota: 3