Foi lançada em 2022 uma nova série em homenagem ao clássico personagem Black Kamen Rider. Embora faça uma espécie de reboot em relação à série de 1987, a nova produção, chamada Kamen Rider Black Sun, mostra elementos diferentes da original ou mesmo de suas derivadas, e apresenta alguns novos aspectos, ao problematizar questões políticas contemporâneas.
++ Leia também: o cinema e a vingança
Na série, mostra-se que na década de 1950, alguns cientistas, em meio a um eclipse solar, realizaram uma agressiva cirurgia em duas crianças. Essas crianças eram Issamu Minami e Nobuhiko Akizuki. Os cientistas, que eram pais das crianças, implantam metade de uma pedra, a cobiçada King Stone, na criança Issamu e, quase que de forma instantânea, o garoto sofre uma transformação, em meio a seus gritos de dor.
Esta é uma das primeiras cenas da série, que, apesar dos numerosos flashbacks da década de 1970, mostrando a versão jovem de Issamu e Nobuhiko, tem a maior parte de sua história ambientada no ano de 2022. O país se encontra dividido entre nacionalistas de extrema direita e manifestantes marginalizados chamados kaijin — mutantes vivendo em guetos disfarçados como humanos, constantemente hostilizados pela outra parcela da população. Quando ficam nervosos ou irritados, a aparência humana dos kaijin desaparece em meio a muito vapor e eles mostram suas verdadeiras — e nem sempre bonitas — faces.
Em meio a esse embate, é apresentado o partido Gorgom, que se coloca como um representante político dessas minorias desde o fim da década de 1960. Contudo, trata-se de uma organização corrupta que não responde de fato aos interesses dos kaijin.
Na série, são apresentados outros personagens importantes, além do protagonista Nobuhiko. Uma delas é a jovem ativista Aoi Izumi, que luta pela igualdade de direitos entre humanos e kaijins. Em sua primeira aparição, a garota discursa durante uma conferência da ONU na defesa de sua causa. Outro personagem fundamental na trama é o adulto Minami, que trabalha como assassino de aluguel para sustentar seu vício em cetamina — uma droga que mantém o estado de anestesia do corpo, livrando o usuário de dores intensas.
Na série, critica-se de forma explícita o racismo e a xenofobia, procurando mostrar, inclusive com alusões históricas, como isso está incrustado na cultura do Japão. Em sua maioria, os kaijins, vítimas de preconceito, são trabalhadores ou oriundos de outros setores pauperizados da sociedade.
Não se poupa nem críticas à monarquia, que ainda existe no Japão, mostrando abertamente uma mensagem de “matem o rei”. Além disso, mostra-se o passado racista do país, fazendo alusão à atuação do Japão durante a Segunda Guerra e o vínculo de seu governo da época ao nazismo.
Difunde-se na série uma clara mensagem de tolerância, defendendo a coexistência entre os dois grupos. Critica-se, por outro lado, abertamente as experiências científicas antiéticas que criaram a espécie vítima do preconceito. E isso tudo em meio a muita ação, cenas de luta e mortes violentas e sangrentas!