Possivelmente uma das mais importantes estreias deste mês no universo das séries é a última temporada de Jéssica Jones. Depois de anunciado o término do Universo Defensores, com o cancelamento das demais séries oriundas da parceria entre a Marvel e a Netflix, a nova temporada de Jéssica Jones ganhou grande importância.
Uma das qualidades mais marcantes desde o começo de Jéssica Jones foi a de colocar o centro da narrativa nos dramas pessoais da protagonista. Enquanto Luke Gage, Demolidor e Punho de Ferro sempre tiveram sua atenção voltada para grandes ameaças contra a cidade ou parte de seus moradores, Jéssica sempre enfrentou fantasmas de seu passado que insistiam em retornar de forma ameaçadora.
Na primeira temporada, viu o retorno de um dos mais espetaculares vilões da televisão nos últimos anos, um poderoso manipulador de mentes, o temível Killgrave. No passado Jéssica havia sido uma das pessoas que sofreram com sua manipulação, tendo inclusive cometido crimes a partir de suas ordens. Jéssica havia sido um objeto em suas mãos, quase um brinquedo, sofrendo um conjunto de assédios e violências físicas e psicológicas. Não por acaso, Jéssica compara com um estupro o que passou nas mãos de Killgrave.
Passado o drama de reencontrar e enfrentar Killgrave, na segunda temporada Jéssica encontra outra pessoa com poderes muito parecidos aos dela. No desenrolar dos acontecimentos, descobra-se não apenas que essa mulher é a mãe de Jéssica, que também havia sido salva do acidente, como o segredo de todos os experimentos pelos quais ambas passaram. Muitos traumas de Jéssica vem à tona, seja o da ingerência sobre seu corpo feita sem autorização, seja o choque de rever uma pessoa que julgava morta havia décadas. E, o que é ainda mais marcante, depois de reencontrar a mãe, de todas as dificuldades de se reconectar a ela, perdê-la novamente, são mostras de que a série permanece centrada em abordar os problemas subjetivos da protagonista e suas reações.
Na mais recente temporada são as consequências da temporada anterior que marcam a ação, mostrando principalmente a separação de parceiros e a ruptura entre Jéssica e Trish. Se a primeira temporada mostrou a reaproximação das irmãs de criação, sendo sua amizade fundamental para fazer Jéssica superar seus traumas, a segunda mostra uma Trish obcecada em ganhar poderes e ser uma super-heroína. Em momentos brilhantes da segunda temporada Jéssica nos convenceu que seus poderes não passam de uma maldição que foi imposta a ela sem seu consentimento e que não consegue tirar nada de bom disso.
Os traumas de Jéssica seguem na terceira temporada, que mantém o clima sombrio e, principalmente, uma protagonista perdida diante de um mundo cheio de ameaças e tragédias.